segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

História do Cinema – Aula 3

Por: Juliana Luiza
Fotos: Janaína Macieira
Vídeos: Henrique Lisboa
 
O genial Rafael Ciccarini, mais uma vez nos deu a honra de sua presença em nosso curso, impressionando a todos com sua infinita gama de conhecimentos sobre a história cinematográfica.
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Cidadão Kane - Orson Welles
A aula se iniciou elucidando o lendário “Cidadão kane” (Citizen kane, 1941), dirigido pelo também lendário e extraordinário Orson Welles. O professor iniciou a aula explicitando a dimensão do filme para a história do cinema:
É sempre um desafio. O Cidadão Kane continua sendo um dos filmes centrais da história do cinema. O meu interesse aqui não comprovar se este é o maior filme de todos os tempos. É preciso entender o por quê da impressão do filme. Quando falamos de cinema moderno, há várias coisas por trás; uma delas é Orson Welles. Se o neorealismo italiano foi fundamental para o cinema moderno, Orson welles no cinema americano, definiu a maneira de como o cinema olha para o real. Cidadão kane é de 1941. É o primeiro filme da vida de Orson Welles, que tinha então 25 anos somente. Orson tinha uma experiência anterior na arte, através do teatroe  do rádio. Mas em matéria de cinema ele era completamente virgem. Assim, ele consegue entrar em Hollywood e fazer o filme que quisesse. Na hollywood de 30 e 40 era impensável essa liberdade. Nem Francis Cappra e Hughes tinham tanta liberdade. No Cidadão kane, a história do cinema é muito paradoxal. Ao mesmo tempo que que fez Orson Welles fazer um filme genial,  também causou muitos problemas, condenando a vida dele pra sempre.

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Neste ponto, o professor resumiu brevemente a trama do filme, que elucida a ascensão de um magnata malévolo da imprensa americana, Charles Foster Kane, que de garoto pobre no interior, se transforma num imperador dos meios de comunicação.  O professor salienta que o filme foi inspirado na vida do milionário William Randolph Hearst, que é considerado um dos precursores da chamada “imprensa marrom”.  A imprensa marrom é a forma como podem ser chamados  os órgãos de imprensa considerados publicamente como sensacionalistas, que buscam alta audiência e vendagem através da divulgação exagerada de fatos e acontecimentos.
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O jovem e belo Orson Welles.

O professor perguntou se alguém de nosso grupo havia assistido o filme. Surpreendentemente, alguns membros haviam assistido somente o fatídico e polêmico “Muito além do cidadão kane”, um documentário da BBC de Londres, que faz uma dura crítica ao sistema Globo de comunicações. Segundo o professor, o nome foi inspirado no cidadão Kane, pelo fato do referido documentário tratar do tema da influência da mídia televisiva, que em meados de 1990 tinha predominantemente o domínio da emissora de Roberto Marinho.
Comenta o professor sobre a genialidade de Orson Welles:

Orson Welles foi atrevido. Ele exige um contrato de liberdade criativa….e vai fazer um filme sobre o cara mais famoso dos Estados Unidos. É um filme crítico, de olhar ambíguo. O Charles Foster Kane é o mocinho (...), mas é também a figura má, de atitudes questionáveis. Esse olhar crítico e ao mesmo tempo ambíguo não é comum. O filme relaciona à grandiosidade à pequenez.

Cicarrini também comentou sobre um filme que Orson Welles fez no Brasil. Logo após "Citizen Kane", Welles passou uma temporada no país, onde pretendia filmar o carnaval carioca para um seguimento de um documentário chamado “It’s all true”. O professor comentou:

O Hurst tentou de todas as maneiras uma guerra contra Orson Welles, que ficaria indisposto com Hollywood inteira. No segundo filme dele por exemplo, o estúdio montou da forma que quiz o filme, e também queimou os negativos. Tem até a lenda que ele nadou no Rio Arrudas e m Belo Horizonte, e esta teria sido a melhor luz que ele já filmou. Tem também a história sobre uma suposta conversa dele com Juscelino Kubitscheck, onde tentava-se criar um polo cinematográfico no morro do chapéu.

Continuando, o professor prosseguiu, comentando mais sobre a trajetória de Welles e a lendária transmissão do programa de rádio que simulava uma invasão dos Estados Unidos por marcianos:
O Orson Welles, tinha desde os oito anos uma companhia de teatro em New York, chamada Mercury Theater. Ele fez uma montagem de Mcabeth, só com as pessoas do Harlem. No rádio, ele apresentava um programa nos anos 30. Há a famosa história, onde ele abriu o programa lendo um trecho do “Guerra dos mundos”. As pessoas começam a acreditar naquilo…o país começa a entrar em pânico. O Orson Welles ficou sabendo disso e intensificou a narrativa (…) Isso deu a maior confusão. Esse evento ficou famoso, ele teve que se explicar na polícia.

Neste instante, Ciccarini, comentou sobre o filme de Wood Allen A era do Rádio, onde acontece uma alusão ao pânico criado por Orson Welles nos anos 30, no que diz respeito a esta narrativa de “A guerra dos mundos”:

Ele sai com a menina. De repente começa a narrativa…o Wood Allen sai correndo. É um momento interessante que ele alude aos anos 30.

Ciccarini prosegue:

Nos anos 30, uma trajetória no teatro, literatura e poesia, era um caminho muito comum para o acesso a hollywood. Era previsível que ele fosse para Hollywood. O ano de 1939, como eu já comentei aqui anteriormente,foi um ano muito especial para hollywood, onde foram produzidos filmes como O Mágico de Oz, No tempo das diligências, E o vento levou, entre outros…    Orson Welles queria ousar. Ele fecha com a RKO e começa a antipatizar a imprensa americana, pois ele nunca aparecia com o filme pronto…virou uma guerra, e uma ciumeira em hollywood. Orson Welles convida então o Mankiewicz para escrever o roteiro. Eles começam então a desenvolver o trabalho no filme. O estúdio então descobriu que o filme era baseado no Hurst quando o filme já estava pronto. Assim, os próprios estúdios ofereceram 900.000 dólares pelos negativos do filme. Nesse momento se deu a guerra então…Orson Welles consegue criar um clima pós lançamento para o Cidadão Kane, que já era um filme controverso. Orson Welles sempre negou que o filme fosse baseado no Hurst, que como personagem Charles Foster Kane, era casado e teve uma amante. O filme começa com a morte de Charles Foster Kane. A palavra Rosebud é a chave do roteiro do filme.

“Rosebud”, segundo o professor, foi uma alusão ao orgão genital feminino.  Neste sentido, o autor Orson Welles reservou a palavra “Rosebud” para associar poeticamente àquilo que o personagem possuía de mais íntimo, de mais particular. Comenta o professor:

“Só um cara de 25 anos, que achava que rea dono do mundo e gênio, poderia criar algum como isso”.

Ciccarini comenta mais sobre o filme:

O Cidadão Kane é importante por uma série de motivos como questão técnica, o fato de potencializar a linguagem e a mudança na maneira de filmar. Além disso, o filme não é linear….Isso faz com que o cálice de objetivo do filme melhore muito. Como ele consegue articular esses componentes? E o lançamento do filme, como foi? A RKO lançou o filme com alguma timidez. Não foi com 30% de entusiasmo. O filme não é um fracasso de público, mas não é também um sucesso. Foi indicado ára 11 Oscars e somente ganhou 1, o de melhor roteiro original. John Ford comentou: “Não sei se esse é o Oscar que eu gostaria de ganhar”.

O professor explicou que John Ford fez esse comentário justamente por todo o momento conturbado que marcou a produção do filme.

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Prosseguindo, Ciccarini deu início a exibição das primeiras cenas do lendário filme, elucidando que as letras garrafais que exibiam o nome de Welles, BY ORSON WELLES, diziam implicitamente todo o orgulho dele na criação do filme: “O filme é meu”, era o que estava implícito.

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Comenta o professor: Já há uma ironia no início do filme com a frase “No trespassing” (Não entre) numa placa. Sobre o movimento de câmera e o jogo de luzes do início do filme, potencializado na famosa cena do castelo,o professor comenta:

O que ele faz é justamente o contrário do movimento de câmera que não fora pensado até então. Ele não necessariamente criou nada, mas potencializou tudo o que tinha. O Castelo de Charles Foster Keane vai ficando cada vez mais próximo. O filme é cheio de pequenas ilusões visuais. (…) Você está do lado de forma, aí a luz se apaga. Quando a luz acende novamente, você já está do lado de dentro do Castelo. O Orson Welles era um ilusionista. “Ele diz Rosebud e morre”. Os elementos são simbólicos. A neve é simbólica. A casinha, a câmera saindo de dentro são elementos simbólicos. Quando a câmera sai, ela em tese sai da metade objetiva. É um jogo de símbolos que a visualidade compõe. A neve está perpassando ali (…). Há também uma espécie de virtuosimo na chega que a enfermeira aparece. Estamos vendo a imagem fechada. Fica parecendo que é um erro, mas não é.

Ciccarini também comenta das cenas da exibição do telejornal neste início do filme:
A trilha é de Bernard Herman, um dos maiores compositores de trilhas do cinema, que é o mesmo compositor de Psicose. As cenas mostram Charles Foster Kane numa maquiagem impressionante, já que Orson Walles tinha apenas 25 anos, e ali ele aparenta ser um homem bem mais velho.  Há um detalhe no filme: Para parecer mais velho, Orson Welles jogou o negativo no chão. Essa espécie de telejornal tem uma função narrativa de grande eloquência. Além de ser uma ironia, nós ficamos sabendo que o telejornal não está sendo exibido para o público, mas para alguns jornalistas. As primeiras informações são narrativas sobre o personagem. Dentro desta narrativa o roteiro é disparado em cima da procura por Rosebud.   Há também a relação de ambiguidade no filme. O cara vai pesquisar quem foi Rosebud. O filme tem narradores diferentes, a verdade é subjetiva. Ninguém sabe quem é Charles Foster Kane. A verdade é relativa.

No vídeo abaixo, cenas do início do filme. Não encontramos as cenas com as narrativas originais em Inglês, somente as cenas ditas em Alemão. Entretanto, as imagens resumem um pouco do contexto citado:


O professor também comenta sobre o plano de transição mostrado no início do filme, que demonstra um projetor passando... No fundo, o cinejornal, que o telespectador descobre que nunca foi exibido para o público, mas sim para a imprensa, que o está assistindo. Diz o professor:

A cena vai se desenvolvendo com apenas duas fontes de luz forte. Welles queria uma cena parciamente cura e parcialmente clara. O filme tenta exarcebar a ambiguidade das coisas: Claro e escuro/ Luz e sombra. O filme coloca a imprensa sobre um questionamento visual. Essa é uma fotografia muito influenciada pelo expressionismo alemão. O personagem fica escuro de um lado e iluminado de outro, o que seria tecnicamente errado. É muito interessante o recorte no rosto dos personagem. A luz fica na frente dele. Aí instaura-se a dúvida pela imagemm, que fica cheia de fumaça, não fica plana.

Quanto ao movimento de câmera que aparece no letreiro da cena, o professor comenta:

O movimento de câmera nesta cena é interessante.O efeito letreiro passar por dentro na fusão. A câmera sai de baixo e vai repousar no persoangem. A câmera continua se movimentando. O Orson Welles trabalha bem com o espaço onde está filmando.

Em relação à profundidade de campo, o professor exemplificou com as imagens finais da sequência, onde se dá o diálogo entre Susan Foster Kane e hum homem. Diz o professor:

É a relação com o foco que dá profundidade ao campo. A silhueta em primeiro plano é homem e a do terceiro plano é Susan Foster Kane.

Ciccarini segue explicitando as cenas do filme, à partir da cena do “Diário do tutor”. Comenta o professor:

O filme vai assumir agora o ponto de vista do diário. O narrador passa a ser o diário. A câmera se movimenta e entra metaforicamente o diário. Passou lá pra dentro.

Em relação aos planos de sequência, o professor comenta:

O menino joga a bolinha de neve. Daí acontece o corte. A partir de agora começa um plano de sequência especial: O menino bricando, aparentemente é uma imagem normal. Mas a câmera começa a se movimentar para trás, nos revelando na verdade três pessoas na cena. A profundidade de campo faz com que o menino continue no quadro. O que está sendo discutido ali é o futuro do menino. A profundidade de campo, que mostra o menino numa imagem no meio, de fora da janela, brincando inocentemente, ajuda a complexidade". Essa profundidade de campo é uma das mais notáveis do filme. O menino falando ao longe, a voz dele entrando…(..) não há corte. Orson Welles cria um móvel com roda- a câmera levanta e passa por ali.
Os outros diretores trabalham muito em corte. O Orson Welles nesta cena trabalha sem corte. O móvel com rodinha é algo que surge ali entre outras coisas. Ele consegue trazer a influência do teatro sem teatrilizar. Orson Welles  mantém o espaço para o ator atuar, não precisa cortar. O ator tem continuidade.

Abaixo a referida sequência citada, que infelizmente, apenas conseguimos encontrar com a narrativa também dublada em alemão:


Já a sequência seguinte, mostra a cena, onde segundo professor, dáse uma passagem e vinte anos muito sutil, demonstrando assim uma elipse. A câmera baixa foca no menino olhando um adulto de cinema para baixo, demonstrando então o ponto de vista infantil daquela realidade. O guardião de Kane entusiasticamente lhe deseja “a Merry christmas e a imagem corta, com o tutor desejando “A happy new year” para Charles, já adulto. A sequência segue mostrando Orson Welles pela primeira vez no filme com o seu aspecto normal, de 25 anos. A cena mostra a redação de um jornal, com pessoas indignadas em relação a algumas manchetes. O professor comenta a questão de Orson Welles usar o teto rebaixado na cena:

Não se via teto em hollywood. O Orson Welles quiz mostrar o teto no filme, inclusive rebaixado. Isso era novidade, por que ele gostava de lidar com lente e tamanho das pessoas. Quando assistimos esse filme, redimensionamos a própria idéia de cinema. Olha como o cinema é uma mentira…você só presta atenção no diálogo e no cenárío está rolando toda uma perspectiva.

No vídeo abaixo, as referidas cenas:

O professor ainda faz mais comentários sobre Orson Welles:

“Os diretores de cinema passam a assistir o cidadão Kane, que se torna então referência.     Continuando a carreira, Orson Welles faz “Soberba” (The Magnificent Ambersons, 1942). Dizem que havia um plano de sequência que foi um dos melhores de todos os tempos, mas que infelizmente se se perdeu. Dizem que ele chorou quando isso aconteceu. O filme tem um desfecho que não foi ele quem filmou, foi filmado por outro diretor.
No filme A marca da maldade (Touch of Evil, 1958), o estúido mexeu em tudo. Mas você sabe que foi algo modificado. O estúdio fez uma versão póstuma e uma versão do estúdio. Orson Welles também filmou Shakespeare: Otelo e MacBeth. Um dos seus últimos fimes foi “Air for fake”.O cinema americano é cheio de paradoxos. O Orson Welles morreu gordo e teve uma vida muito difícil.

Ainda sobre o Cidadão Kane, o professor comenta:

“O filme foi indicado a 11 oscars, mas desaparece nos anos 40. A RKO tira as cópias de circulação. A crítica americana constrói um outro discurso sobre a figura de Orson Welles. Então, desta forma, muitos diretores americanos apssam a ser valorizados pela crítica Francesa, como Alfred Hitchcock”.

Neste momento, o professor traz a lembrança do filme “Dirigindo no escuro (Hollywood Ending – 2002), onde Wood Allen interpreta um diretor cego. Neste filme, a crítica francesa o elogiou muito. Segundo o professor, em uma dada ocasião, Woddy Allen comentou: “Ainda bem que existem os franceses”.

Film Noir
A aula prosseguiu  elucidando o estilo “Film Noir. Comenta o professor:

“O nome film noir foi dado aliás pela crítica francesa. Neste estilo, há a predominância do preto, da sombra, e da escuridão…algo bem semelhante ao kane. Geralmente tramas policiais, crimes, poluição são coisas inerentes a esse tipo de filme. Existe também a possibilidade da idéia da verdade. Ninguém confia em ninguém. A trama vai sempre te enganando. A verdade é sempre mutável e transitória. Mas ao mesmo tempo muito encantador. No filme Fame fatale, com Humprey Bogart, por exemplo, existe o aspecto da sedução, que é também ambíguo. Existe também uma mistura de glamour com crítica. O visual do noar clássico é portanto o constraste de claro e escuro (…). Esses filmes foram mais comuns nos anos 40 e 50. Mas mesmo o cinema colorido tem alguns exemplos, intitulados de Noar Moderno. Podemos dar o exemplo de China Town e Blade Runner.  Esse estilo tem a influência do expressionismo alemão..e existe um vazio, você naõ sabe como é a verdade.

Os clássicos do cinema noar são Pacto de sangue, Laura, A beira do Abismo e A marca da Maldade, que são de meados das décadas de 40 e 50. Nos anos 90, o filme Los Angeles cidade proibida traz um pouco deste estilo. Sin city, de Robert Rodrigues e Femme Fatale, de Brian de Palma também mostram também. O Casablanca tem também algo do Noar. O Bogart é uma figura do Noar.

Neorealismo Italiano
O professor deu prosseguimento a aula abordando a questão do Neorealismo Italiano, qu segundo ele, é um momento central e definidor da história do cinema. Comenta o professor sobre esse aspecto:

O neorealismo italiano é o momento da história em que a história do cinema se bifurca. Rosselini vem modernizar. No período pós guerra, 1945, onde a Itália havia perdido a guerra, o que acontece nesse momento, é que até pelo facismo, os cineastas estão interessados em mostrar a realidade do país. O neorealismo traz então atores amadores e uma idéia fortemente neorealista. É um cinema que quer mostrar, mas não encenar a realidade. (…) .O estúdio principal Italiano da época, a Cinecittá, estava quebrada. É mais um cinema pensado á partir das condições.
O paradigma até então era do cinema de estúdio, com bastante dinheiro e equipamentos. Chega então o cinema neorealista, que não tem tripé e não tem muita luz, como em vidas secas, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, onde a fotografia é arídissima. (…)
O cinema realista lida com pessoas comuns e tem um enredo simples. Neste momento, o cinema, ao invés de buscar histórias complicas, comoeça a lidar com histórias que começam a ser simples. Tolstói diz que Se quiser ser universal canta a sua aldeia.

No Neorealismo há uma mudança de paradigma. Fala-se muito do presente,tudo é quase documental. É um cinema que vai direto na realidade. Esse movimento do Rosselini, esse ato de pegar a câmera e ir para a rua liberta o cinema: Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça (...).O neorealismo em um dado momento, começa a influenciar o cinema americano. Em Roma Cidade Aberta, Rosselini mostra a resistência contra os nazistas em roma. É quase um documentário sobre a Itália pós guerra. (…). Os filmes Noar são belos, mas tristes.

Neste ponto, o professor conta algo sobre o citado filme, o que definiu com uma semifofoca:

O Roma Cidade Aberta chega nos USA. A Ingrid Bergman fica apaixonada pelo roteiro do filme…e resolve então ir a Itália conhecer o Rosselini e se apaixona por ele”. O Rosselini fez a trilogia da guerra: Roma Cidade Aberta (1945), Paisà (1946), Alemanha, ano zero (1948).
O neorealismo dura enquanto dura o contexto do Rosselini. Então, o neorealismo enquanto força vai até a década de 50. Talvez seja esse um dos momentos que mais influenciaram o cinema, que dura cerca de 10 anos. (...) O Glauber Rocha foi uma das figuras que trouxe o estilo Noar para o Brasil.

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A belíssima Ingrid Bergman e Roberto Rosselini

A aula prosseguiu com a exibição de belíssimas e tocantes cenas do filme Ladrões de Bicicleta (1948), de Vittorio de Sica, que de acordo com Ciccarini é um dos clássicos do cinema neorealista. O professor comenta:

Esse é um filme importantíssimo na história do cinema. O Kane, O Encouraçado Potemkin e Ladrões de Bicleta, ficam brigando para ser o melhor filme…

O filme mostra pai e filho, que são atores amadores, abaixo cenas do filme:


A trama da história se inicia quando Antonio Ricci é seleccionado para um trabalho que consiste em colocar Posters pela cidade. O grande problema é que o trabalho exige uma bicicleta e ele tinha acabado de vender a sua para conseguir sustentar a família por mais algum tempo. Sem outra hipótese, Antonio e a sua mulher Maria regressam à loja de penhores para tentar recuperar a bicicleta, trocando-a por outros bens que ainda tinham. Tragicamente, logo no primeiro dia de trabalho, a bicicleta é roubada. Desesperado, Antonio começa a vasculhar toda a cidade com o seu filho Bruno,em busca da preciosa bicicleta. É essa busca através dos mais variados locais que centraliza toda a narrativa. do filme.


Comenta o professor, mostrando as cenas do vídeo:

Quem escreveu o roteiro foi Zavattinni, que se baseiou em várias histórias conhecidas.O neorealismo tem um aspecto documental. Parece que realmente a rua foi filmada. O plano aberto da rua interfere o mínimo possível na realidade. O De Sicca tinha métodos no limite do questionável…Por exemplo, ele acusou o menino do filme de ter roubado algo, só pra fazer ele chorar….Parece que ele fez uma terapia de choque.
A fotografia do filme é mais escura. Dizem que um desses carros não estavam combinados. Eu já vi essa cena mais de 30000 vezes. Esse filme tem um simbolismo bonito. O menino desconstruindo a figura paterna. O filho devolvendo o chapéu pro pai (…) é uma atuação rica. O De Sicca filma muito. O que acontece no final? Nada! Eles morrem de fome!



A aula prosseguiu abordando Luchino Visconti, que segundo o professor, é um dos grandes artistas Neorealistas. Comenta o Rafael Ciccarini:

O Visconti fez o filme Obsessão, de 1942. Alguns o consideram como sendo o filme pioneiro do neorealismo. Esse filme tem uma trama comum, onde uma mulher planeja com o amante o assassinado do marido, e vem com uma centelha neorealista. Outros filmes neorealistas de Visconti são “A terra firme”, e “Belíssima”. Ultrapassando o Neorealismo, Visconti fez filmes como Rocco e seus irmãos, O Leopardo e Morte em Veneza.


O cinema pelo mundo
Ciccarini prosseguiu a aula, dando ênfase a alguns diretores que ajudaram a construir a história do cinema, nas décadas de 40 e 50. O professor comenta:

“ Não dá pra falar em movimento. Dentro dessa faixa temporal eu elegi alguns diretores.
Ingmar Bergman, foi um dos diretores mais célebres da história do cinema. Ele se tornou um nome conhecido e respeitado e lidava com questões centrais e filosófica, como a morte, a culpa e a existência. (…) Todo artista precisa fazer arte e Bergman vai sem nenhum tipo de pudor tentar descer ao lugar mais fundo. Quase nunca foi uma experiência leve ou prazeirosa. Bergman é também diretor de tearato e começou a fazer filmes na década de 40. Berger se aprofunda na alma feminina”.

Neste instante, Janaína, integrante do nosso grupo, fez uma comparação com Chico Buarque, por que o mesmo é tido como um dos artistas brasileiros que mais entendem a alma feminina.

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Ingmar Bergman e Chico Buarque de Hollanda…poetas da alma feminina?
Ciccarini citou algums filmes produzidos por Bergman, como Sonata de Outono, onde ele contrascenou com a belíssima Ingrid Bergman, que curiosamente não é sua parente, imagecomo o sobrenome e os
nomes que são parecidos poderiam sugerir. Outros filmes que foram produzidos por ele são Persona, Gritos e Sussuros (1956) e Os morangos Silvestres (1957).

O professor salienta que Bergman lida com o rosto de uma maneira singular e potente:

Bergman demonstra que o cinema é a arte que mostra a verdade do corpo humano como nenhuma outra. Bergman não é o cineasta para você ir com a turma assistir e comer pão de queijo. Para assistir os seus filmes se faz preciso uma certa sensibilidade e um certo sexto sentido.

A aula prosseguiu abordando a figura de Fellini. Comenta o professor:
 
“Fellinni é alguém que construiu um universo extremamente particular, com noções de fantasia, de verdade e mentira, que são noções muito difundidades. O ser humano em sua visão é também o sonho que ele ainda não foi. Neste sentido, a ficção é um documentário da alma. Uma das obras primas do Felini é o filme “Eu me recordo”, onde ele rememora sua infância. O filme traz um mergulho visceral na vida que ele teve ou que ele queria ter tido.
No filme oito e meio, Fellini constrói uma espécie de alterego, uma espécie de autocrítica em relação ao cinema, talvez abordando a questão dele ser um dito mulherengo…O filme tem algo relacionado com paciência e tolerância. Vale à pena dar uma chance ao filme. É um dos filmes mais oníricos da história.
 
imageFrederico Fellini

A aula prosseguiu abordando a figura de Luis Bunel, que segundo Ciccarini foi um grande gênio do cinema espanhol. O professor elucida:

Ele produziu o Cão Andalluz….e tem uma carreira longa e variada. Foi talvez o grande anarquista a história do cinema. Com uma capacidade crítica, ele lia com muito humor. Seus temas prediletos são a igreja e o moralismo. Ele ironiza ricos e pobres. No filme Veridiana , por exemplo, ironiza a Santa ceia. Nos anos 50 ele filmou Os Esquecidos, que mostra de certa forma como os valores se submetem à realidade.
Em O Anjo exterminador (1962), ele mostra a Burguesia aristrocrata jantando. Na hora de ir embora as pessoas não conseguem deixar a sala. Surrealmente as pessoas não conseguem deixar a sala. O filme tem interpretações marxistas, na medida em que se concebe numa metáfora das próprias prisões que os homens criam. O homem se faz prisioneiro das próprias convenções.
 
image Luiz Bunuel

O professor finalizou sua excelente explanação comentando de Billy Wider, que segundo ele é um dos grandes carpinteiros do roteiro e fez todos os gêneros. Comenta Ciccarini que os seus principais filmes foram:
1- Pacto de sangue, que tem o estilo Noar. 2- Farrapo Humano, com Willian Hurts, que linda com o tema do alcoolismo. 3-A montanha dos abutres, com Kirk Douglas. 4- Testemunha de acusação, que é um thiller. 5-Se meu apartamento falasse e 6-Quanto mais quente melhor, com Marilyn Monroe.


Estudo: Grupos Espíritas – 2ª Parte / Ricardo Mizrahy

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Nossa aula, teve prosseguimento com o estudo de excelente Ricardo Mizrahy Polakiewicz, que dissertou mais uma vez sobre os aspectos do trabalho em grupo.
Abaixo, postamos a 2ª parte do o excelente estudo feito pelo Ricardo.


Abaixo segue a apresentação de slides usada por Ricardo.


Um dos destaques de nossa aula foi o Hilário Henrique Lisboa, que chegou à nossa aula fazendo uso de um psicodélico capacete...Não sabemos ainda o motivo do uso do referido capacete.... Mas Henrique continua sendo motivo de muitos risos em nossa turma. Que ele continue sempre com essa alegria!
 


ABRAÇOS A TODOS E ATÉ A PRÓXIMA!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Aula de roteiro – Aula 4

 Por Juliana Luiza
Vídeos: Henrique Lisboa



Nosso curso prosseguiu com a quarta aula de roteiro, proferida pelo excelente Claúdio Costa Val, que mais uma vez encantou a todos com sua enorme gama de conhecimento e paixão pela sétima arte. Claúdio iniciou a aula resumindo a aula anterior, onde ele havia abordado a noção sobre as chamadas cenas essenciais, que foram então definidas da seguinte forma:

1-Cenas Essenciais

1.1- Cenas de Exposição
1.2- Cenas de Preparação
1.3- Cenas de complicação.
1.4- Cenas de clímax
1.5- Cenas de Resolução


Neste sentido, Costa Val elucidou:



“Escrever um roteiro é montar um quebra cabeça. É pensar qual o momento eu introduzo ou reintroduzo determinada informação. O conflito é casado com o personagem...com seus problemas e obstáculos. O protagonista está sempre em conflito. Existem situações arquétipas das mazelas humanas como se vingar de alguém por exemplo. O ponto alto do gráfico gramático é o clímax."


Recapitulando a questão das cenas de exposição, Costa Val elucidou o clássico de Alfred Hitchcock, A sombra de uma dúvida (A shadow of the doubt,1942). No filme, o personagem Charlie Oackley é um criminoso que seduz e mata viúvas. Para fugir da polícia, ele acaba indo visitar sua irmã Emma, que vive com seu marido e sua filha Charlie. Com a convivência, Charlie - a sobrinha - começa a cada dia mais desconfiar de que seu tio não seja realmente a pessoa que diz ser. Salienta Costa Val:


"Este era o filme que Hitchcock mais gostava e foi totalmente feito em estúdio. O Hitchcock constrói um filme didático sob o aspecto dramático e sob o aspecto de planos e enquadramentos. Ele contextualiza a cidade, como se fosse o "era uma vez" de uma determinada história; Fazendo uma contexualização geográfica, ele mostra os planos gerais e conjuntos: Nesta rua, nesta casa, nesta janela. O Hitchcock só coloca em cena aquilo que é fundamental.".

Prosseguindo a revisão sobre a noção de exposição no desenvolvimento do roteiro, o professor descreveu uma cena, onde se faz nítida a incrível habilidade do mestre Hitchcock na apresentação de um determinado contexto:

"Entra a criada: senhor Charlie...tem dois homens querendo falar com o senhor. O Charlie vê um cara parado em frente ao prédio-aí já aparecem interrogações no telespectador. Charlie desce pela rua e passa entre os dois caras, que começam a andar atrás dele- Aqui ele já nos apresentou o filme, sem nos apresentar nada. Depois, o telefone. Não sabemos para onde ele está ligando. (...).
No entanto, 90% do filme se passa em Santa Rosa, na California, onde se dão as cenas de preparação. Quem é esse Charlie? Nas cenas de preparação ele chega em Santa Rosa. Descobrimos que a menina é a sobrinha. Em diante se dão as cenas de complicação. No filme, o elemento complicação aparece no começo, com as cenas da polícia procurando o assassino de viúvas".



Costa Val ainda salienta que é interessante perceber que não existe uma regra muito clara na exposição. No filme citado, a exposição, através dos planos e enquadramentos, foi feita geograficamente.O professor, abordando outro aspecto da questão dos planos e enquadramentos citou o filme "Encurralado", (Duel 1971):


"Um caminhoneiro alucinado persegue um cacheiro viajante. O antagonista é o caminhão. É como se fosse personificada a máquina, através de planos e enquadramentos mirabolantes. (...) O clímax é o precipício- breve momento para onde tudo se converge".


Neste instante, nosso colega Fred faz um comentário:" Sem o clímax você não chega na resolução".


Prosseguindo, Costa Val salienta que é interessante ver os bons filmes para entender os aspectos de introdução:


Na mobilidade da câmera e nos aspectos da montagem o trabalho é desenvolvido casado com o drama.


O professor ainda citou outros elementos,que integram todo o contexto da ação cinematográfica, salientando que a música acompanha o drama. Segundo ele existem também filmes sem música nenhuma, como "Entre os muros das escola" ((Entre les Murs, 2008), que trata a questão dos segregados nas escolas francesas, onde o tratamento não é igual. Segundo Costa Val o filme parece um documentário, foi estruturado narrativamente como um documentário. Abaixo, cenas do filme:



Costa Val também citou a ausência de música do filme "A casa de Bernarda Alba", baseado na peça de Garcia Loca: O filme é sombrio, passado na casa da Bernarda Alba. Depois da morte de seu marido, Bernada Alba obriga suas filhas a seguir um rígido luto que não as permite nem sair de casa. A música somente volta no final, com um flamenco fandando. O final é extremamente trágico...

Abaixo cenas do filme:                    


A aula prosseguiu abordando a questão das cenas intermediárias de ligação (ou transição). O professor estruturou esta abordagem da seguinte forma:

2. Conexão orgânica entre as cenas-O que se faz importante neste sentido são por exemplo os aspectos da temporalidade e da contextualização geográfica.

2.1 Cenas de Passar do tempo- Neste sentido o professor citou a cena de uma "abóboda celeste passando", quando rapidamente o sol vai surgindo no horizonte. Nuvens são também elementos de passagem de tempo. Para ilustrar a questão da passagem de tempo, Costa Val citou o clássico "O Selvagem da motocicleta" (Rumble fish, 1983)de Francis Ford Coppola. No filme as primeiras cenas que se vê são imagens de nuvens em alta velocidade, nos remetendo a certa visão do apocalipse, dos finais dos tempos.   Diz Costa Val: "


"O Coppola insere durante todo o filme uma cena de céu que não é somente passagem de tempo. Isso é reicidente no filme. Costa Val ainda salienta que nas cenas de passagem de tempo, o objetivo é mostrar a transição da história. A natureza é elíptica. Clichês como um relógio na parede, ou as folhinhas(calendário) passando depressa, ou as cenas de um jardim onde caem folhas, que vão ficando secas...ou as cenas de um jornaleiro entregando vários jornais, denotam passagem de tempo".

Abaixo cenas do filme:


Neste sentido, o professor citou a comédia romântica, “Um lugar chamado Nothing Hill” (Nothing Hill, 1999), com Julia Roberts e Hugh Grant. No filme, o personagem de Hugh Grant, um inglês que tem uma vida provinciana, apaixona-se pela personagem de Julia Roberts, que é uma famosa atriz de Hollywood.  Salienta Costa Val:

"No filme, uma belíssima cena de passagem de tempo é mostrada no terceiro ato do filme, demonstrando a passagem do período de um ano através do esteriótipo das quatro estações. Neste sentido é mostrado o cenário de uma feira de rua, onde Hugh Grant está andando. Numa caminhada passam-se as quatro estações".

Abaixo um vídeo da referida cena:


Costa Val ainda acrescenta que podemos demonstrar passagem de tempo às vezes com um simples corte ou com uma legenda:
"Uma Casa pegando fogo numa noite e amanhecendo em ruínas no dia seguinte, também demonstra passagem de tempo."

O professor também citou o filme “As horas”, (The Hours) onde a atriz Nicole Kidman, irreconhecível fisicamente, interpreta Virgínia Wolff. Diz Costa Val:

“ O filme se dá em três histórias paralelas. Começo do século, meio do século e atualidade.

Continuando, o professor cita a demonstração de passagem de tempo no referido filme:

“ Em frente ao espelho, Virgínia Wolff enxágua o rosto. Quando se levanta, outro personagem aparece".

Neste sentido, portanto, aparece o conceito do corte, na “emenda”, por assim dizer, de épocas diferentes. Abaixo, as cenas citadas do referido filme, que ainda tem no elenco as excelentes Meryl Streep e Julianne Moore:

 
Diz o professor que se faz preciso a criatividade no cinema. Neste sentido, o professor elucidou o filme o filme Profissão repórter (The passenger-1975), com o excelente Jack Nicholson. No filme, o personagem de Nicholson interpreta um jornalista esgotado em relação à própria vida, que troca de identidade com um homem morto. Na cena onde Nicholson assume a indentidade do morto, a câmera “corta”eu seu personagem, demonstrando que o tempo passou rapidamente.Relembrando uma conversa que teve com o falecido, o personagem logo étrazido para o cenário onde ele começa a elaborar a troca deidentidade. Neste sentido, acontece,demonstrando a questão da transiçãodas cenas (Fade in, fade out segundo o professor).


Abaixo, as cenas elucidadas do referido filme:
 

2.2- Cenas de contextualização geográfica

Onde se passa a ação? Na questão as novelas televisas se dá a questão do resgate do plot remoto. Diz Costa Val:
“Constamentemente eu tenho que lembrar o telespectador onde está acontecendo a ação”. Assim a faixada de um casarão ou a faixada de um prédio são elementos de recaptulação das sequências anteriores.Por outro lado, o cinema tem uma narrativa monomórfica, que aborda o mesmo assunto em toda a narrativa. Acontece uma narrativa contínua e sem corte".

Neste instante, o professor abordou a lembrança do inesquecível clássico de Stanley Kubrick, "2001, uma odisséia no espaço" (2001, a space odissey, 1968). Costa Val comenta que se faz lamentável a exibição neste filme na tv, na medida em que sequências antológicas são cortadas.
Segundo ele,a interrupção com o  comercial tira todo o efeito de cenas como aquela onde o macaco joga o osso para cima, fazendo uma espécie de fusão com a nave espacial.
Abaixo a referida cena:



Continuando ainda a enfatizar o aspecto da linguagem televisiva, Costa Val comenta:

“A narrativa televisiva, de network, se sustenta pelo diálogo. A linguagem é massiva, , com break de 12 em 12 minutos aproximadamente"

Comparando à linguagem televisão ao cinema, o professor acrescenta:


“No cinema o que sustenta é a ação. Um plano geral, como um vale enorme,ou uma carroça tem um certo impacto. Já na tv, uma corraça é um beicinho de pulga”.

Neste sentido, o professor fez uma piada em relação ás dimensões mínimas da televisão se comparadas ao cinema. Outra comparação em relação à exibição televisiva, foi feita com o já citado “2001, dizendo que tudo se perde numa telinha.

O professor, também comparando a questão das exibições na tv e no cinema, fez uma crítica a um filme produzido por ele próprio, A cartomante. Diz o professor:

“ Eu finalizei esse filme em película. Eu não fiz uma cena de contextualização geográfica. Me faltou um plano que passou batido. Faltou uma plano dentro da casa do Camilo para a casa do Vilella. Para o vídeo, eu fiz uma fusão que resolveu. Mas em película isso é muito difícil e caro. A contextualização geográfica muda a sequência. A função desse tipo de cena é demonstrar onde acontecem as ações.                                                                                                
Abaixo cenas do curta produzido por Costa Val no ano de 2000:                                             

Neste instante, o professor elucidou que sempre que se produz algum roteiro, se faz necessário fazer duas perguntas:

1) De que trata a história?
2) Como contar a história? O roteiro sugere alguma coisa?

Neste sentido ele elucidou que se pode encontrar elementos em outras obras:

“Eu li seis traduções diferentes de Mcbeth.”


A aula proseguiu com Costa Val abordando os outros aspectos da estruturação das cenas na ação direta:              

3- Cenas de flashback: Têm função dramática, denotando uma volta no tempo.                                                              
3.1- Flashback explicativo- Há uma justificativa de cenas que aconteceram anteriormente. O roteiro neste sentido, preserva a ação direta e a ordem cronológica dos fatos ocorridos. -

3.2-Flashback evocador-Evoca a lembrança, evoca uma memória. Traz aspectos ocultos do personagem; do seu passado remoto ou recente que tem uma conexão com o presente. O professor acrescenta:

"Eu nunca escrevi num roteiro a palavra flashback. Eu nunca escrevo frases como seus olhos se perdem nas lembranças...O flashback precisa ter uma função dramática".                  

Para ilustrar um pouco mais a questão dos flashbacks, Costa Val fez menção do filme “Os últimos passos de um homem” (Dead man walking), com Sean Pean e Susan Saradon.
                                                  
"No filme, Freira que trabalha junto à comunidades carentes decide responder às cartas de um homem condenado à morte. Ela passa a visitar o homem no presídio e acaba criando um vínculo de amizade. Na narrativa, em um determinado momento, o telespectador pode duvidar se o crime foi cometido ou não. O uso de flashbacks é um elemento importante na ação: “No filme, o telespectador duvida em um certo momento se o crime foi cometido ou não”.


3.4- Flashback atípico-Demonstram fragmentos de um determinado acontecimento, mas não demonstram realmente o que aconteceu.
Durante todo o filme “Dead man walking”, por exemplo, são mostrados fragmentos dos crimes supostamente cometidos pelo personagem de Sean Penn; mas esses fragmentos não são mostrados claramente, causando então a dúvida no telespectador.

Salienta Costa Val sobre o filme:

“Atores como Sean Penn, Susan Sarandon e George Cloney são críticos da sociedade americana. Minutos antes do personagem de Sean Penn ser executado, ele finalmente admite a culpa. Aí vem finalmente o flashback explicativo mostrando como foi toda a sequência do crime”

Costa Val também cita a frase, que marcou as últimas cenas do filme, proferida pelo executado Sean Penn, que teria o direito de dizer suas últimas palavras: “Eu acho que matar é errado. Eu errei e todos vocês estão errando comigo”.

Ainda incrementando a questão dos flashbacks, Costa Val trouxe à tona o belíssimo filme “Herói” (Hero, 2002),do diretor Zhang Yimou, tendo Jet Li no elenco. Com poderes sobrenaturais e muita coragem, um soldado, Sem Nome (Jet Li), parte em uma missão de vingança contra o terrível exército que massacrou o seu povo. Segundo Costa Val, o filme demonstra a educação para a estética:
“Esteticamente o filme é bonito e é todo constrúido em flashs. O filme é recheado de coreografias e começa com o imperador contando uma história. Cada vez que volta um flashback a cor muda, em razão do caráter e da intencionalidade que ou autor constrói para o seu personagem. No final do filme, uma nuvem de flechas deixam a forma do imperador no portão do palácio”.
4- Outros tipos de cena
4.1 Cenas oníricas - Costa Val concebe essas cenas como cenas de sonhos. Segundo o professor, essas cenas de sonhos tem uma função dramática interessante, pois são por vezes esteticamente diferentes e trazem à tona aspectos do personagem. Segundo o professor, as cenas oníricas trazem o questionamento: Até que ponto existe a diferença entre o real e o imaginário"? As cenas oníricas geralmente têm um tratamento à parte. (...). O professor também comenta sobre sua própria experiência em relação a esse tipo de cena:

"A cada vez que aparece uma cena de sonho num filme eu procuro colocar um elemento a mais...vou avançando na história".

4.2- Cenas de flashfoward- O professor define essas cenas como sendo uma espécie de avanço no tempo, se traduzindo portanto num avanço no tempo.
Para exemplificar esse tipo de cena ele citou o filme Premonição (Final destination- 2000). O filme, que o professor e vários membros de nosso grupo consideram como sendo Minutos antes da decolagem de um vôo para Paris, um garoto tem uma premonição de que o avião explodirá logo que os motores se ligarem. realmente muito ruim, aborda a questão da visão do futuro.                                                                       



Ainda sobre a questão do flashfoward, o professor comentou os filmes de comédia, onde um determinado personagem imagina uma mulher estonteante e de repente ela se transforma num monstro. Costa Val também comentou sobre o filme “A hora da zona morta” (The dead zone, 1983), do diretor David Cronenberg, com Christopher Walken. No filme, um Homem passa a ter visões do futuro, depois que desperta de um longo coma. Comenta Costa Val:                                                                                                              

“O personagem principal é um vidente e o filme é recheado de flashfowards (...). Um menino com patins vai morrer por exemplo, essa situação vai atormentá-lo. Ele descobre um político que causaria a terceira guerra mundial e essa situação o pertuba... Ele descobre que ele tem o poder de mudar o destino".

Costa Val prosseguiu a aula esmiuçando, por assim dizer, os aspectos concepção da cena.
Como abordado em outras aulas,o roteiro é formado por cenas e cada cena tem um espaço específico para cada informação. Diz o professor:

“O que acontece dentro da cena? A unidade dramática do roteirista é a cena”.

Neste sentido, o professor estruturou o seguinte esquema no quadro: Plano-cena-sequência-filme             

Acrescenta Costa Val:

“O roteirista escreve pensando na cena.  Eu posso ter uma cena de um plano e uma cena de 10 planos. Ocorrei aí uma decupagem (...) A caneta do diretor é a câmera. Um filme está ligado a três movimentos: Interno(do intérprete), externo (da câmera em si) e montagem (da associação)".
Proseseguindo, Costa Val comentou que os elementos constituintes da estruturação de um roteiro:

A)Cabeçalho

Nesta parte informa-se o número da cena, local onde se passa e a luz ambiente.
Costa Val deu alguns exemplos de cabeçalhos:

# 1 SALA DE VISITAS (lugar) INT (ação) DIA (tempo):
                \Número da cena)                     \(interna)
--------------------Rubrica de ação----------------


# 57 INDEFINIDO/INT/DIA.
Comenta o professor sobre a estrutura acima: “Eu não quero definir o personagem antes. Eu estou adiando um pouco a apresentação.
Neste sentido, ele citou o filme “Os infiltrados” (The departed), com Jack Nicholson, Leonardo DiCaprio e Matt Dammon. Costa Val relata que no filme, Nicholson interpreta um mafioso, que no início do filme é visto num cenário escuro, e no final está na luz. Portanto, a apresentação do personagem é feita aos poucos.

Abaixo o trailler do referido filme:


Costa Val fez uma comparação da estrutura dos cabeçalos citando a concepção Aristotélica na estrutura de Ação/tempo/lugar. Neste sentido comenta o professor:

                                                                               “A ação é definida no cinema para onde a câmera de encontra. Alguns autores colocam por exemplo estruturas como int/salas de visitas dia/ ou sala de visitas/ext/dia. Pode ser que a câmera esteja de fora, mostrando o ambiente da sala”.

B) Rubrica
Costa Val, introduzindo a questão da rubrica na estruturação do roteiro, começa citando uma determinada sequência:“ É madrugada. Uma porta se abre. Entra um homem. Não percebemos suas feições”.
Salienta o professor:

“Como diretor eu posso achar melhor mostrar primeiramente um determinado ambiente. O diretor vai definir o que é mais importante.A rubrica deve conter descrições do ambiente, bem como uma breve descrição do personagem e também descrição de ação de aúdio”.                                                                   

Neste sentido, Costa Val comenta a questão dos direitos autorais dentro do contexto da produção de um roteiro: “ Você pode até ter a idéia da música para um determinado filme. Mas não é bom citar por conta do direito autoral”.Ilustrando ainda essa questão, ele citou os fonogramas dos Beatles, que segundo ele jamais são vistos em filmes. . Ainda sobre a questão da rubrica, ele fez alguns adendos:
                                     
“O autor que não coloca rubrica soa como preguiça. Dificilmente escreve-se uma cena de roteiro que não tenha rubrica. Onde o personagem habita diz o que o personagem é. Na rubrica é abordada toda contextualização temporal e social, tudo o que existe relacionado ao ambiente”.

Prosseguindo na questão da contextualização do ambiente, o professor descreveu o ambiente de uma sala de aula:

"No cenário de sala de aula, por exemplo, de 18 anos... quatro alunos interessam no universo da cena. Os outros são componetes dramáticos e atuam como figurantes. Eu estou contextualizando a ação. É interessante que a cena contenha certos elementos”



Sobre a questão da formatação da rubrica, de acordo com Costa  Val, ela vem sempre no modo justificado. Abaixo, uma imagem da opção do programa word, onde se faz possível justificar o texto. A imagem demonstra a seleção da opção justificar, que é a última da sequência.
                                                        
A fonte do texto da rubrica, segundo Costa Val é sempre courier new, tamanho 12. Segundo o professor, essa letra e esse tamanho são os mesmos utilizados na máquina de escrever:





Finalizando a questão da estruturação de um roteiro, comenta Costa Val: “ Dentro da cena portanto temos o cabeçalho, a rubrica e os diálogos. Costa Val salienta que nos diálogos,geralmente o nome do personagem vem centralizado em caixa alta.
Ainda, eu posso colocar uma rubrica de intencionalidade, como um personagem cochichando".
O professor exemplificou a estrutura de uma cena onde o personagem não fala:


ANTÔNIO (VO)
VO significa voice over. (sem voz)

Costa Val também exemplificou um diálogo onde o personagem está na cena, mas não é visto:

ANTÔNIO (OS)
OS significa off screen. (fora da tela).

Finalizando sua argumentação sobre a estruturação das cenas com voice over, Costa Val comentou:


“ Pensar o audivisual é também pensar o que está de fora. Enquadrar é muito interessante. Eu estou, por exemplo escreve uma cena onde o personagem recebe outro em casa. O personagem abre a porta. Os personagens são Maria e Jonas. Maria se levanta e sai do quadro. Maria está off screen. Ela está na cena, mas não está sendo vista. Ela participa ativamente. Provalvelmente a atriz vai assistir a cena fora do quadro”




O professor prosseguiu sua explicitação, fazendo abrindo um comentário sobre a abordagem de aspectos técnico em alguns roteiros. Segundo o professor, um excesso de aspectos técnicos seria algo negativo para o roteiro:


“ Um filme é sobretudo um exercício de estética. Até que ponto se isenta a questão técnica ao se escrever um roteiro? Sid Field disse que se num longa aparece a palavra câmera mais de dez vezes, você deve então rever o roteiro. Já Lumet, ignora os roteiros que contém muitas indicações técnicas.



Planos cinematográficos                                                                                                                                           
A exposição de Costa Val foi finalizada com a abordagem dos planos cinematográficos, que segundo o professor, se inserem na decupagem clássica.
Com o propósito de esmiuçar melhor esta abordagem, Costa Val estruturou a seguinte sequência no quadro:

PG-PLANO GERAL
PC-PLANO CONJUNTO
PMC-PLANO MEIO CONJUNTO
---
PM-PLANO MÉDIO
PA-PLANO ABERTO
--
MPP-MEIO PRIMEIRO PLANO
PP-PRIMEIRO PLANO
PPP-PRIMEIRÍSSIMO PLANO
---
PD-PLANO DETALHE.

O professor comenta que cada autor tem sua nomenclatura própria em relação à estruturação dos planos. O importante é se fazer entender.
De acordo com o professor, os planos geral, conjunto e meio conjunto priorizam os ambientes descritivos.
Comenta o professor:


"O plano geral cabe muito em cenas externas como no mineirão ou numa rua. O ambiente ocupa espaço com o sujeito" (...)


Existe tambem o grande plano geral,onde uma grande dimensão geográfica é demonstrada.
Um plano conjunto, segundo o professor poderia ser conceituado por exemplo, no ambiente de uma sala.
Já no plano conjunto, percebe-se a pessoa, ou grupo de pessoas e já é possível reconhecê-las.
Por outro lado, o plano meio conjunto, segundo o professor, seria uma porção do plano conjunto. Metade de uma sala por exemplo

Já nos chamados planos narrativos,segundo o professor, a medida é a pessoa humana. Os planos médios e aberto são exemplos de planos narrativos. O plano médio segundo Costa Val, é o meio do caminho. É o ator por inteiro, em toda a sua totalidade.
O PM mostra o ator mais próximo, de corpo inteiro, e apenas alguns pormenores do cenário,desta vez completamente subordinado à presença humana.

O plano aberto, pega todo o objeto da filmagem e nada mais, focando somente no personagem de corpo inteiro, nada além disso.
Ja o meio primeiro plano, o primeiro plano e o primeiríssimo O MPPP, na visão de Costa Val, são planos psicológicos, que demonstram uma espécie de ação interior e estados emocionais dos personagens.
O MPP, conhecido também como plano americano, segundo Costa Val mostra os atores da cintura para cima. O plano americano aproxima-nos um pouco mais as figuras, cortando-as pelos joelhos.
O primeiro plano, segundo costa val faz um close no rosto do personagem.
Já o PPP, proxima mais ainda a imagem, mostrando por exemplo somente uma parte do rosto.

Finalizando a questão dos planos cinematográficos, o professor explicitou o PD, plano detalhe, que tem uma função indicativa segundo ele. O PD mostra um detalhe do rosto, de uma parte do corpo, de um objeto.

Concluindo a excelente aula, Costa Val sintetizou:
                                                                         

"Escrever um roteiro é montar um quebra cabeça. É importante que eu conheça as peças. A estrutura dramática é ambígua por natureza.”

Neste sentido, exemplificando a arte de escrever um roteiro, o professor citou o clássico “Casablanca”, com Humprey Bogart e Ingrid Bergman. O filme Conta a saga daqueles que tentavam fugir da Europa, ocupada pelos nazistas, para os Estados Unidos. A cidade de casablanca era a principal rota de fuga.

Ilsa, a personagem de lngrid Bergman, apaixona-se por Rick, o charmoso galã Humphrey Bogart, mas, em vez de fugir com ele de Paris, manda-lhe um bilhete de despedida na estação de trem.Tudo isso é contado em flashback. Anos depois já em Casablanca, em Marrocos, ela aparece com seu marido, o herói Victor Laszlo, interpretado pelo ator Paul Henreid, justamente no Rick's Bar, do qual o personagem de Bogart é dono. Eles estão à procura de um meio de fugir para a América. O sofrimento de Rick ao vê-la é inevitável e ela fica novamente dividida entre seus dois amores.

Comenta Costa Val:

“ A estação é cheia de clichês. O autor trabalha essas previsibilidades com certas potências. O filme foi filmado em plena segunda guerra, ao mesmo tempo coloca uma história de algo como plano de fundo. Ele parte sem entender o que havia acontecido
Casablanca é o melhor roteiro escrito na história do cinema. O filme é ambíguo em tudo. Humprey Bogart é um personagem 3 em 1, é encantador. Ao mesmo tempo que ele é crápula, ele é humano. Ele fugeiu da sua vida e dentro do Rick’s bar as pessoas comparam sua fuga”.


O professor ainda salienta que o Rick’s bar tem funções arquétipica no filme. A ação se centraliza portanto neste cenário, que ficou eternizado com a belíssima As time goes bye, tocada divinamente por Louis Amstrong".

                                                                                         Abaixo o vídeo da antológica cena:


Costa Val salienta que existe toda uma aura especial quando o diretor focaliza a belíssima e angelical Ingrid Bergman: “O diretor coloca toda a lente na Ingrid Bergman. Quando estamos construindo um drama, se faz preciso entender o protagonista”.

Finalizando a brilhante a aula, Costa Val, já conclamou a todos de nosso grupo a fazer o “PARA CASA”, para a próxima aula do dia 24 de Janeiro. Deveremos construir toda a estrutura de um roteiro, e se possível mandar por email para que ele corrija.


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Nossa experiência deste último Domingo foi concluída com uma excelente explanação de Ricardo Mizrahy Polakiewicz, palestrante do centro espírita Manuel Filipe Santiago. Ricardo esmiuçou brilhantemente os aspectos do trabalho em grupo, tema que se relaciona plenamente com a proposta de nosso curso.
Destacamos aqui alguns pontos importantes da explanação de Ricardo:

“Jesus trouxe uma doutrina de paz, amor e convivência. O entendimento sobre a convivência em grupo é essencial”.
Ricardo elucidou um fato curiso sobre a cidade de Uberaba, uma das cidades que mais possuem centros espíritas no Brasil:
“Como se explica uma cidade pequena ter tantas casas? Discerção. As vezes aqueles que estão contaminados pela cisão estão cheios de rancor. No Paulo e Estevão, há a oposição entre Pedro e Thiago".
Ricardo prosseguiu: “Essa é uma questão chava para vocês que estão em grupo: Nós temos que somar talentos e virtudes. Vocês enfrentarão desafios. Será mais proveitoso caminhar juntos vencendo diferenças (...)
Só quem entende que o que une é a moral comprende. Muitas vezes casas espíritas ligadas ao mediunismo acabam. O que unia o grupo? Era o fenômeno e não a moral. Enquanto existir o aspecto moral estaremos juntos nesta luta. Nós precisamos, enquanto grupo de nos unir no aspecto moral. Qual é o objetivo do grupo? Nós temos expectativas, nós temos que pensar em nossos desejos e valores para que não nos frustremos.
(...)
Ricardo, mencionou uma referência ao prefácio do magnífico Parnaso de Além túmulo, onde o então jovem Chico Xavier se autobiografa e relata as dificuldades do início de suas atividades mediúnicas em Pedro Leopoldo. Ricardo enfatiza que, surpreendentemente, a partir que a moral evangélica foi aprofundada, o grupo foi diminuindo.
Segue o trecho do livro:
Resolvemos, então, com ingentes sacrifícios, reunir um núcleo de crentes para estudo e difusão da doutrina, e foi nessas reuniões que me desenvolvi como médium escrevente, semimecânico,sentindo-me muito feliz por se me apresentar essa oportunidade de progredir, datando daí o ingresso do meu humilde nome nos jornais espíritas, para onde comecei a escrever sob a inspiração dos bondosos mentores espirituais que nos assistiam.Só nos últimos dias de 1931, com a graça de Deus, desenvolveram-se em mim, de maneira clara e mais intensamente, a vidência, a audição e outras faculdades mediúnicas.
Daí a pouco, a nossa alegria aumentava, pois o nosso confrade José Hermínio Perácio, em companhia de sua esposa, deliberou fixar residência junto a nós e as nossas reuniões tiveram resultados melhores, controladas pela sua senhora, alma nobilíssima,ornada das mais superiores qualidades morais e que, entre as suas mediunidades, conta com mais desenvolvimento a clariaudiência.
Nossas reuniões contavam, assim, grande número de assistentes, porém, a moral profunda que era ensinada, baseada nas páginas esplendorosas do Evangelho de Jesus, parece que pesava muito,como acontece na opinião de grande maioria de almas da nossa época, quase sempre inclinadas para as futilidades mundanas, e,decorridos dois anos,os assistentes de nossas sessões de estudos escassearam, chegando ao número de quatro ou cinco pessoas, o que perdura até hoje.
Acrescenta Ricardo:
“Onde tem evangelho, não tem grosseria e revide. Se eu tiver um entendimento de evangelho, as lutas internas vão se pulverizar. Esse entendimento de amor é que faz ser cinema espírita. Se não, vai ser só cinema”.
O palestrante, a fim de ilustrar o tema em questão, citou também uma belíssima frase de Walter Barcelos: “ Mais importante que o amor à verdade é a verdade do amor”
Finalizando sua explicitação, Ricardo falou: “Se esse grupo não fizer nenhum filme, mas conseguir se amar, já sairá vitorioso (...) A identidade do cristão é sentida naquele que abre mão das próprias idéias em prol do ideal de Jesus.
A palestra de Ricardo foi bastante profunda e emocionou a todos.


Abaixo o estudo feito por Ricardo, na integra.




Finalizamos nosso relato de hoje, inspirados pelo ideal de Jesus.

abraços a todos e até a próxima