sábado, 13 de março de 2010

Aula de Produção

 Por Juliana Luiza
Vídeos: Theo Cabral
Fotos: Theo Cabral e Joana Soares

A aula do último Domingo, contou com a experiência de Theo Álvares Cabral Filho.
Theo, que também é integrante de nosso curso, trouxe um pouco de sua vasta experiência na área da produção, no intuito de que pudéssemos equiparar alguns parâmetros da produção de comerciais, com alguns aspectos da arte cinematográfica.
 
Theo é formado em instrumentação eletrônica pelo Colégio Técnico da UFMG e bacharel em Design – Desenho Industrial pela Fundação Universidade Mineira de Arte Aleijadinho em Belo Horizonte. Ele também trabalhou como designer, Programador visual e fotógrafo, c começou começou com produção áudio visual a partir de 82, com o desenvolvimento de sistemas de exibição de vídeos em grandes telas. Theo também foi professor de Recursos Áudio visuais para faculdade de Comunicação da Universidade Newton Paiva por dois anos em 86 e 87.
Theo Produziu, dirigiu ou codirigiu milhares de comerciais e documentários em cinema e vídeo para clientes como Banco do Brasil, Minisitério da Agricultura, Ministério da Economia, Governo Federal, vários Governos de Estado, Caixa Econômica Federal, Vasp, Correios, Banco Econômico, diversos Shopping Centers e muitos outros clientes de projeção em todo Brasil, além de inúmera peças para rádio para os mais diversos clientes nacionais
Atualmente Theo representa a Open Filmes em Minas Gerais – A Open Filmes é uma produtora de filmes, principalmente comerciais que tem como sócios diretores dois expoentes do filme publicitário nacional: Sergio Mastrocola na fotografia e Pablo Nobel na direção.
Clique no álbum abaixo e confira vários momentos da trajetória de Theo, junto a grandes e famosos nomes do cenário artístico brasileiro:
Falcao 033      PRODUÇÕES0014       
A aula foi iniciada com a apresentação de diversos modelos de fitas como Beta e Mini Dv.
O MiniDV é um dos mais populares formatos de fita para DV e destina-se ao mercado amador e semi-profissional, com a grande vantagem de um tamanho reduzido e qualidade superior, comparado ao formato VHS. Betamax era um formato de gravação em fita caseiro de 12.7 mm idealizado e fabricado pela Sony.
Relacionando alguns aspectos das fitas em questão e os aspectos da imagem, Theo prosseguiu sua explanação com algumas considerações:
O que imagem? Imagem é luz. O que vemos de imagem é a luz refletida. Se luz é uma energia eu posso medir a intensidade de energia.(…) Fotografia também é luz. Basicamente é isso. Como você transforma imagem em sinal elétrico e sinal elétrico em imagem.
A aula prosseguiu com a abordagem de alguns pontos do aspecto da produção. Theo comentou:
O produtor lida com dinheiro, viabilizando as coisas. Nós estamos falando de custo/valor. Se eu tenho um talento importante, eu estou produzindo. Vamos tratar a produção sob o ponto mais tangível possível: grana. Se a gente pretende realizar algo temos que ter em mente certos parâmetros. O espírita trabalha em cima do ideal e sob o ponto de vista da produção também temos que entender o aspecto do ideal. Uma coisa é fazer por que você gosta e outra é fazer por que você tem que fazer.
Trabalhar com cinema não dá pra fazer uma coisa meia boca. Eu tenho que entender que à partir disso eu vou viver disso. Por isso que esse passo que a gente dá tem que ser com o ideal.
Na medida que conhecemos a noção de analisar a posição profissional, algo é liberado….é necessário que nós absorvamos essa vivência em função do trabalho.
O filme é um produto, um documentário institucional. O produtor recolhe os recursos, estabelecendo um orçamento antes de chamar a Pesquisa, o roteirista, o diretor, o produtor executivo. (...)
Se faz preciso estabelecer um lugar para reunir essas informações e estabelecer quais são os objetivos. Um exemplo é o filme “Chico Xavier”.
Em relação ao orçamento você sempre trabalha com dinheiro e tempo. É muito comum você ver em filmes de toda ordem que o diretor é também roteirista. Cada um que entra no seu processo, entra com seu quinhão criativo. A assessoria de imprensa, por exemplo, já vai trabalhando desde a pré produção.
Todo trabalho de um filme é um processo criativo. Todo planejamento é um orçamento.

Theo prosseguiu a aula abordando o aspecto da Análise técnica do roteiro, exemplificando com alguns filmes:
No Titanic, por exemplo, no Chico Xavier, como são abordadas as situações de épocas, de estúdio, de recursos especiais? Como é feita uma análise? Daí nasce a necessidade de planejamento, de uma abordagem de pré produção.

Portanto, o processo se verifica com a chamada reunião de pré produção. Theo exemplificou com um esquema no quatro alguns dos elementos integrantes deste processo:

Produtor de Logística Produtor de transportes Pesquisa de maquiagem Produtor de Cast
Produtor de Alimentação Produtor de Aúdio Preparador de Elencos Necessidade de cenários
Pesquisa de Locação Produtor de mídias Pesquisa de objetos Maquinaria
Pesquisa de Figurino Produtor de Arte Luz Pesquisa de Casting

Sobre o referido esquena, Theo comentou:
Tudo isso tem que ser pesquisado. Somente à partir desta pesquisa você vai poder fazer um segundo orçamento. No caso de um “weather day” (dia chuvoso), por exemplo, se chover você pagará mais um tanto…. Tudo tem que existir com uma orientação do diretor. As vezes a afinidade é profissional. Eu posso confiar que determinado trabalho é realmente bom.

Sobre a figura do produtor de cast (produtor de elenco), Theo elucidou:
O produtor de cast é uma pessoa meio marrom, meio noar…ele tem que ter um feeling a mais para perceber.

Sobre o aspecto da maquinaria, Theo comentou:
Quando falamos em maquinaria, estamos falando em dinheiro e tempo. O uso da steadicam, por exemplo…Isso tudo tem um custo, antes mesmo de se começar a filmar. Esse planejamento de maquinaria é fundamental.

Em relação ao aspecto da luz Theo comentou também:
O diretor de fotografia tem que ter uma noção, precisa definir a luz. Pois aí já começa um escopo de um segundo orçamento.

Entremeando as explanações com algumas observações sobre os aspectos da produção, Theo fez alguns adendos:
Um produtor não anda despreparado…carrega consigo sempre objetos como lanternas e luvas.
É preciso ter profissionalismo. Eu vou me tolher criativamente em função da beleza da cena que eu quero.

Continuando, Theo ainda elucidou a figura dos produtor de mídia, que lida com a compra da materialidade como fitas, e lida com os aspectos planejamento, produção, finalização e distribuição.
A figura do produtor de logística, que trata dos aspectos do transporte, da movimentação de materiais, do processamento de pedidos e gerenciamento de informações, foi também elucidada.
Segundo Theo a questão das autorizações e sessões de direito é também tratada pela produção de logística:
O direito autoral é algo tão sério que você tem que ficar feliz quando aparece num comercial…a utilização da imagem no comercial só pode ser feita com autorização e é cobrado o valor proporcional ao número de vezes que uma imagem é mostrada ou um comercial é vinculado.

Theo também comentou sobre a figura do produtor de elenco:
O produtor de elenco é aquele que dá uma aquecida no ator. Em Cidade de Deus, por exemplo, houve uma preparação de elenco fantástica.

Foi ainda elucidada a figura do diretor executivo:
O diretor executivo tem que ter certas visões. O que pode parecer caro não é…caro é quando uma coisa vale menos e você paga mais. Caro é colocar um eletrecista num quarto 5 estrelas ou o diretor junto com o maquiador. Mais um dia de filmagem também pode ter um custo maior. A insegurança do tempo, por exemplo…Choveu o tempo todo num filme que eu fiz…Mas acreditamos que a espiritualidade conspire para que tudo dê certo.

Theo também emiuçou o conceito da Reunião de Produção:
A reunião de produção é onde as coisas são definidas. Cada um desses aspectos vai ter uma reunião específica. Um bom produtor planeja bem. Você tem direito de errar quantas vezes quiser na pré-produção. Na reunião são definidos o casting, a locação…que cenas serão produzidas? Que horas a cena será rodada? Posso modificar algo? A reunião vai trazer todas essas informações
 Numa peça você tem vários vetores que puxam….Um dos vetores é a qualidade, que está por vezes ameaçada pela falta de grana. Outros elementos são o vetor vaidade, o vetor modernidade e o vetor sintonia.

Prosseguindo a aula, Theo trouxe algumas pastas pra o nosso grupo, além de mostrar alguns slides. Ele comenta:
Na Open Filmes, entregamos uma pasta com a orientação da produção. A capa da pasta traz alguns dados como os nomes da Agência, da Produtora e Produtora de Aúdio.

A primeira pasta mostrada foi de um comercial da ração Whiskas. A primeira página traz o índice dos conteúdos da pasta, como ficha técnica, roteiro, shooting board, casting, figurino, locação, fundo locação, objetos, comida caseira e cronograma.
Prosseguindo sua explanação, Theo fez mais algumas considerações sobre o processo de produção dos vídeos elucidados:
Faz diferença a maneira de apresentar. Na medida que nos envolvemos com cinema, entendemos que a produção de um filme é algo coletivo. Falando do espiritismo, se esse é o aprendizado, que vivamos ele. Qual a diferença de falar de Whiskas ou falar de ideal espírita? Nós vamos nos aprimorar neste sentido.



Mostrando a pasta no slide, Theo elucidou a ajuda que os shooting boards oferecem na filmagem. O shooting board traz uma espécie de esboço fotográfico das cenas de filme, e ajuda os criadores a visualizar a estrutura do filme e discutir a sequência dos planos, os ângulos, o ritmo, a lógica do filme, as expressões e atitudes dos personagens.
Theo mostrou o “casting” contido na pasta do comercial Whiskas. Segundo ele, no caso Whiskas existem quatro situações (cenas), tendo como pano de fundo um trabalho semiótico. Para cada sequência há sapatos específicos.
Ainda sobre o comercial Whiskas, Theo comentou: Foi apresentada a mesma cozinha com vários ângulos diferentes.
Foi também elucidado as mock ups que aparecem no vídeo (maquetes), que segundo Theo, se traduzem numa representação do produto artisticamente feito. Diz Theo: Existem verdadeiros laboratórios de criação de mock ups.
Outros comerciais como o comercial da Directv e outro feito para o Governo de Minas Gerais, também foram mostrados.

Theo faz mais algumas elucidações:
O importante é entender a importâncias da produção. As coisas podem ser bem planejadas. O que eu acho importante é isso: Dá pra fazer. Claro que quando se trata de uma filmagem de 30s, o mínimo detalhe é um processo.
Quando falamos em produção executiva, não falamos que é uma pessoa em si, mas uma instituição. Quem define como e onde começar é o produtor junto com o diretor em relação a n variáveis.

Theo também desenhou uma espécie de esquena da hierarquia da produção, que reproduzimos abaixo. O esquena mostra os diversos membros da equipde de produção e seus respectivos assistentes. Clique na figura para visualizá-la ampliada:

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Sobre o esquema, comentou Theo:
Essa estrutura que eu estou mostrando mostra que é importante assumir esses papéis. Mesmo amadoristicamente fazer filmes é fazer um trabalho importante. Todo esse processo demanda aprendizado como qualquer profissão. O dia que eu souber o suficiente para imprimir meu estilo aí eu aprenderei.

Theo, pediu um Dever de Casa para o nosso grupo, tendo como base um “briefing”.
Por enquanto eu quero que a gente faça a decupagem como produtor, se perguntando: Isso vai ser filmado onde? É importante que vocês orcem esse filme. E por fim mostrarei o filme realizado.

Thiago Franklin finalizou a aula deste último Domingo com a exibição do curta “Mudança de rumo”,com roteiro e direção de Ana Maria Martins.
Alguns extras do filme “Up, altas aventuras”, que ilustram com entrevistas precisas aspectos da produção de num filme, também foram mostrados.



Abraços a todos
Até a próxima!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

História do cinema – Aula 4

Sempre com muito bom humor e carisma, nosso curso contou mais uma vez com a experiência do professor Rafael Ciccarini, na quarta aula de História do Cinema.

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Rafael iniciou a aula fazendo um resumo dos principais pontos da carreira de Alfred Hitchock.

Hitchcock começou nos anos 20 (...). Ele aprendeu muita coisa trabalhando na Alemanha e trabalhou até o final da década de 60. Ele teve mais de cinquenta anos de carreira.
Ele praticamente criou o gênero suspense junto com o Fritz Lang. (...)

Todos são influenciados por ele. Hitchcock se reiventa o tempo todo. É alguém que faz filme para o público, para o telespectador, fazendo um jogo para o telespectador de psquia complexa, como ser humano complexo, sempre sofisticando algo a mais. (…)

O cinema tem um paradoxo fundamental: O Hitchcock é alguém que foi um grande expoente do cinema mundial, ao mesmo tempo que é considerado um artista. O Hitchcock é alguém que fez filme comercial ou artístico? Na verdade, ele é alguém que se tornou um grande artista dentro da estrutura tolhedora hollywoodiana. O Hitchcock tem essa carreira longa, experimentalista, sendo um cineasta respeitável pelo aspecto da montagem.


Em 1948 ele faz Festim Diabólico. Neste filme, ele queria fazer um plano de sequência e um estúdio simulando um apartamento. É o primeiro filme colorido dele. É um filme excepcional.



O professor comentou uma curiosidade:

Quem iria fazer o papel do James Stuart era o Cary Grant.

                                  O eterno galã James Stuart

Prosseguindo, Rafael comentou:

Hitchcock teve a chamada fase muda, com o Inquilino Sinistro. A carreira dele é dividida na fase Inglesa e na fase americana. A maioria dos filmes conhecidos são da fase americana da década de 40 para frente frente. (…), Nos anos 30, ele traz os filmes A dama Oculta, Os 39 degraus eo o Homem que sabia demais. (…)

Hitchcock foi o primeiro a tratar o som como motivo dramático. As coisas mais simples são tensas. A sonoplastia da faca em Psicose  é algo surreal. Ele o Lang são aqueles que mais rapidamente começaram a sofisticar o som. (…)

Nos anos 40 ele traz Rebecca. O filme traz uma personagem que já não existe mais. A ex mulher do cara morreu e ele nunca se livrou dela. A trama gira em torno de uma jovem mulher a qual nunca é nomeada, e o viúvo que tenta recomeçar sua vida após a morte de sua primeira esposa. (…)

O Hitchcock faz um flashback sem cortes. A forma como ele fez foi fantástica. No flashback toma-se a intenção como verdade. A linguagem vai sendo absorvida aos poucos. (…)


Prosseguindo, Rafael comenta sobre Pavor nos bastidores, outro filme de Hitchcock. No filme, Jane Wyman interpreta a estudante de teatro Eve Gill, que tenta inocentar um amigo (Richard Todd) acusado injustamente de assassinato se tornando assistente da estrela dos palcos Charlotte Inwood (Marlene Dietrich). Diz o professor:

Nos anos 50, Hitchcock traz Pavor nos bastidores. Quando as coisas vão acontecendo percebemos que é um flash mentiroso (...). Houveram críticas tais como “esse filme está errado, como pode ser?”
Hitchcock tinha um controle raro do corte. Ele filmava já praticamente montando. A maioria filma num plano geral, em vários ângulos. Muitas vezes diretores inseguros filmam toneladas. Hitchcock já filma montando. Ele já tinha um controle muito grandde sobre o que ele queria.

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O genial Alfred Hitchcock


Prosseguindo, o professor comentou sobre o filme A sombra de uma dúvida, de 1942 (Shadow of a doubt). No filme, Charlie Oackley é um criminoso que seduz e mata viúvas. Para fugir da polícia, acaba indo visitar sua irmã Emma, que vive com seu marido e sua filha Charlie. Com a convivência, Charlie - a sobrinha - começa a cada dia mais desconfiar de que seu tio não seja realmente a pessoa que diz ser.
Comenta o professor:

A Sombra de uma dúvida é o filme que ele mais gosta. O mal e bem mais próximos do que se imagina.

Ciccarini também comentou sobre Interlúdio (Notorious, 1946). O filme traz a história de uma jovem mulher (Ingrid Bergman), que após seu pai alemão ser condenado como espião, passa a se refugiar em bebida e homens. É assim que se aproxima de um agente do governo (Cary Grant), que pergunta se ela concorda em ser uma espiã americana no Rio de Janeiro, onde nazistas amigos do pai dela estão operando. Ela acaba se casando com um espião nazista, mas se apaixona pelo seu contato no governo americano.
O professor comenta sobre o filme:

Interlúdio é um suspense com champagne. O garçom, as pessoas bebendo champagne (...). Essa coisa de criar o medo no trivial. A câmera do Hitchock olha com muita ironia para quem ela filma. A câmera importa. Com esse observarar da câmera ele estabelece um olhar crítico para o mundo.

O professor também comenta:

Truffaut e outros cineastas começam a valorizar Hitchcock. Existe a questão da culpa, do falso culpado. Só ele e o expectador sabem que determinado personagem é inocente. Ainda que o personagem seja objetivamente inocente, ele tem uma culpa cristã por ele merecer aquilo. Essa culpa mais profunda existencial cristão. O voeyerismo, a morte e o desejo. A sensualidade e a morte estão muito presentes em Hitchcock.
Hitchcock filma o assassianto como se fosse o amor, e o amor como se fosse a morte.


Prosseguindo, Ciccarini traz à tona o inesquecível Janela indiscreta (Rear Window, 1946). O filme se passa em Greenwich Village, Nova York, L.B. Jeffries (James Stewart), um fotógrafo profissional, está confinado em seu apartamento por ter quebrado a perna enquanto trabalhava. Como não tem muitas opções de lazer, vasculha a vida dos seus vizinhos com um binóculo, quando vê alguns acontecimentos que o fazem suspeitar que um assassinato foi cometido.

Sobre o filme Rafael comenta:

Janela indiscreta é uma metáfora existencial do cinema como ato de voyerismo. Essa coisa do desejo da morte, do perigo. O Hitchock brinca com uma série de coisas. Ela (Grace Kelly) fica forçando. O Hitchock sem nenhum diálogo mostra onde a personagem está.


Outro clássico de Hitchcock foi comentando em seguida: Psicose (Psycho, 1960). A sinopse do filme gira se inicia com a secretária Marion Crane. Cansada da vida que leva, ela rouba US$ 40 mil que deveria guardar para o chefe e foge para a Califórnia, onde encontrará o namorado. No caminho, hospeda-se num motel, onde é atendida por Norman Bates, o estranho dono do estabelecimento que parece ser dominado pela mãe.
Ciccarini comenta:

Hitchcock mostra o personagem, o conflito, traz a questão do protagonista morrer (...)

1/3 do filme traz a personagem de Marian Crane, que é assassinada. O filme muda de protagonista. Norman Bates parece. O início oferece toda a indicação que o filme vai ser sobre adultério, mas depois tudo se modifica. A polícia em Hitchock é sempre muito apavorante.
O Psicose foi um filme barato, em preto e branco. Ele achou que o filme iria ficar muito pesado se fosse feito em cortes. Quem corta é montagem, oa gudo de violino, na trilha sonora de Bernard Hermman. Ele mostra a verdade não verdade. O real da tela, não real do mundo.

Prosseguindo, o professor comentou sobre A dama oculta (The lady vanishes, 1938).  No filme, Em um pequeno recanto da Europa os passageiros de um trem ficam retidos em virtude de uma nevasca e são obrigados a pernoitar em uma pequena estalagem. Lá uma rica jovem conhece uma velha governanta e ambas combinam de se encontrarem no dia seguinte no trem. Entretanto, logo após o início da viagem a governanta desaparece e ninguém, por motivos diversos, afirma ter visto a pessoa desaparecida. Ela persiste em suas investigações e acaba convencendo um musicólogo, com quem ela tinha se desentendido na véspera.
Sobre o filme, Ciccarini elucida:

No filme, alguém que está sendo perseguido senta de frente para otura pessoa…Essa minúcia do comportamento humano é mostrada brilhantemente pelo Hitchcock.

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Ciccarini ainda comentou sobre Um corpo que cai (Vertigo, 1958).  O filme se passa em São Francisco, onde um detetive aposentado (James Stewart) que sofre de um terrível medo de alturas encarregado de vigiar uma mulher (Kim Novak) com possíveis tendências suicidas, até que algo estranho acontece nesta missão.

Ciccarini comenta:

Um corpo que cai é um dos filmes mais pesados de Hitchcock, a questão das inversões da personagem é genial.

Ciccarini, ainda elucidando Hitchcock, fez uma abordagem sobre Os Pássaros (The Birds, 1963). No filme, a pacata cidade de Bodega Bay, na Califórnia, vive momentos de terror quando milhares de pássaros se instalam na localidade e começam a atacar as pessoas.
Rafael comenta:

A todo momento nos perguntamos o por quê da questão dos pássaros no filme…o diretor consegue montar um clima dos mais intrigantes, pouco visto antes na história do cinema.

E finalizando abordagem sobre Hitchcock, o professor elucidou Frenesi (1972). No filme, mulheres são atacadas sexualmente por um serial killer, em Londres, enquanto o principal suspeito tenta, a todo custo, provar sua inocência. O professor comenta que este tenha sido talvez o grande último filme de Hitchcock.
Ciccarini ainda elucidou sobre o fato de Hitchcock fazer “aparições supresa” por assim dizer, em vários de seus filmes.
Comenta o professor:

Ele entrava de figuramente. E começou a aparecer em vários filmes…as pessoas começavam a ir ao cinema para tentar encontrá-lo…

A aula prosseguiu elucidando a figura de Stanley Kubrick. Ciccarini comentou que ele está fazendo um doutorado que elucida a carreira de Kubrick. O professor ainda elucidou:

O Kubrick é um dos diretores americanos mais sistemáticos, obsessivos e perfeccionistas. É um daqueles diretores controladores que gostam de filmar em estúdio. Kubrick começa a carreira como fotógrafo e fazendo curtas. Seu primeiro curta foi intitulado “Fear and desire.

Kubrick é um diretor que fez alguns dos filmes mais celebrados de todos os tempos.


 
Stanley Kubrick

O professor prosseguiu a aula comentando sobre o filme Glória feita de sangue (Paths of Glory, 1957). O filme se passa em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial. Um general francês, ordena um ataque suicida e como nem todos os seus soldados puderam se lançar ao ataque ele exige que sua artilharia ataque as próprias trincheiras.


Sobre o filme, Rafael ainda elucida:

Glória feita de sangue, com Kirk Douglas é talvez o último filme humanista do Kubrick. A razão humana derrotando a si próprio. O homem é capaz ddas coisas mais humanas e artrozes.Por isso que a guerra é tão decorrente em seus filmes. A bomba atômica em seu filme de 1964, doutor fantástico, é um exemplo disso.


O professor prosseguiu comentando a carreira de Kubrick e o clássico 2001, uma Odisséia no Espaço (A space Odissey, 1968):

O computador toma consciência e desafia o homem. Há uma série de leituras para os filmes do Kubrick. Em relação à elipse do Osso…o macaco pega o osso (simbólo da ferramenta). Ali ele começa a se tornar homem. O homem é um animal com mãos. O monolito pode ser Deus, uma outra civilização. Sempre que aparece o monolito há um mudança no filme. O computador Hal é o personagem mais forte do filme. A terceira parte do filme traz a última batalha do homem para ser superado…o filme vai se complicando e tem várias leituras. O Kubrick fez esse filme em 70 mm.

Kubrick é um cineasta das perguntas e não das respostas. É um cinema destituído de sentimentos. Ele virou uma figura reclusa. Kubrick filma 80 vezes a mesma cena…era perfeccionista. Trabalhar com ele era uma loucura.



Rafael fez menção a outros filmes de Kubrick, como Lolita (1962), Doutor Fantástico (Dr. Strangelove, 1964),Laranja Mecânica (A Clockwork Orange), O iluminado (The shinning, 1980), Nascido para matar (Full Metal Jacket, 1987) e De olhos bem fechados (Eyes Wide Shut, 1999) e Barry Lydon, 1975. Em relação aoúltimo filme, o professor acrescentou: Barry Lyndon é um épico maravilhoso visualmente. As cenas de luz de velas são extremamente bonitas.

Ciccarini prosseguiu a aula fazendo um resumo sobre alguns cineastas marcantes do cinema japonês. Primeiramente ele comentou sobre Yasujiro Ozu:

Ozu é o cineasta da rotina, do tempo porto. Nada acontece, quase não há ação de buscar a rotina do Cotiano. Alguns filmes marcantes de Ozur são Bom dia, Pais e filhos e Contos de Tókyo.

O professor também acomentou sobre Kenji Mizoguchi:

Não existe outra forma de fazer. A câmera de Mizoguchi sintetiza o movimento das galáxias. Seus filmes tem uma estética remanescente da arte japonesa. Eu o considero um diretor perfeito.


                                       Kenji Mizoguchi

Ciccarini também comentou sobre Akira Kurosawa, um dos maiores cineastas japoneses da história:

Kurosawa traz a idéia da dualidade. Ele consegue ser essencialmente japonês e produz um diálogo com a cultura ocidental. Um dos seus filmes mais celebrados, os 7 Samurais foi refilmado no cinema americano, como Sete homens e um destino. Ele fez também algumas releituras de Shakespeare como Ran (1985), filme basead no Rei Lear.
Outros de seus filmes excelentes são “sonhos” (1990) e Fortaleza escondida, filme que inspiraria George Lucas a produzir Star Wars.


                                            Akira Kurosawa

O professor prosseguiu comentando sobre a Novelle Vague.

A Novelle Vague foi o último grande movimento da história do cinema. É o ponto de partida para um série de jovens amigos cinéfilos discutirem cinema. Essa geração foi formada inspirada em Langlois, criador da cinemateca francesa.
André Basan foi o grande mestre desta geração. Foi uma espécie de pai para essa geração. Talvez um dos ícones mais importantes para aquela geração.
Basan foi diretor da revista cinemá e convida então aqueles jovens cinéfilos para serem críticos da revista. As idéias da nouvelle vague começam então a surgir neste contexto.



Segundo Ciccarni, a Novelle Vague tinha como uma de suas bases a questão da política dos autores. Por política dos autores se entende uma noção de cinema pessoal, que enfatiza as impressões subjetivas em detrimento de representações objetivas, apoiando os chamados autores como verdadeiros responsáveis de um filme. Autores apresentam uma visão de mundo que, no resultado final de um filme, se impõe ao trabalho dos demais membros da equipe de produção, como escritores, roteiristas, designers, atores, editores ou produtores.

O professor comenta:

A política dos autores e complexa. Idéia é uma radicalização da autoria. O Hitchcock se torna um dos primeiros paradigmas da política dos autores. O que importa na autoria é mais a misancene do que os espaços. Howard Hawks, John Ford…a forma de olhar é deles. A crítica francesa eleva portanto esses cineastas ao alto….Isso mudou o paradigma critíco do cinema.

Rafael ainda comentou que essa leitura autorista influenciaria cineastas como o próprio Michael Mann, que em filmes como Fogo contra fogo, Miami Vice e Colateral, mostra um olhar desencantado para o mundo. Os personagens são vazios, solitários. Ele mostra o homem urbano solitário contemporâneo. É alguém que filma essas impossibilidades de plenitude.


Prosseguindo a questão da Nouvelle Vague, o professor ainda comentou:

Eles sempre continuarm críticos. Na Nouvelle Vague o filme é também autoreflexivo. Godard possuiu o tempo todo essa autoreflexividade. A Nouvelle Vague era um movimento que não tinha normas rígidas. O espírito na Nouvelle Vague era filmes livres mais soltos.


O professor mostrou o vídeo de uma das mais memoráveis cenas de “O acossado”, de Jean Luc Godard, um dos mais aclamados filmes da Nouvelle Vague. Os personagens caminham por uma surreal Champ Eliseé de meados dos anos 50.

Ciccarni comenta:

59 é o ano do primeiro filme de quase todos os cineastas da Nouvelle Vague. A Nouvelle vague, junto com o neorealismo Italiano, foi um movimento que influenciou todo o mundo. (…) A Nouvelle Vague, é o único movimento cinematográfico que influenciou algo para além do cinema.

Neste momento, o professor relembrou algumas influências da Nouvelle Vague na cultura brasileira. Segundo ele, o Clube da Esquina, movimento musical das Minas Gerais, tem uma nítida influência francesa. O professor relembrou também o personagem de Pedro Cardoso na minissérie Anos Rebeldes, da Tv Globo,  que era fã de Jean-Luc Godard.


                                      Jean-Luc Godard

A montagem de Godard em O Acossado é extremamente inovadora. É um filme que tem influência do Noar americano, mas ao mesmo tempo é uma tentativa de ir adiante e brincar com as regrinhas de montagem. Acossado foi o primeiro filme a apresentar uma técnica chamada de “jump cut”, em que os cortes quebram a sensação de continuidade e surgem nos momentos mais inesperados. No filme o Belmondo está totalmente Bogart…O filme tem o Glamour do cinema Noar americano, mas você não sabe exatamente algo sobre o personagem. Na cena da Champ eliseé vemos a câmera andando atrás dos personagens. Essa cena ficou imortalizada…Diálogos triviais, câmera na mão. A da personagem com a inscrição “New York Herad Tribune” virou um símbolo para cinéfilos até os dias de hoje.

 


O professor ainda citou os principais filmes dos cineastas da Nouvelle Vague:

Godard: O Pequeno Soldado, A chinesa, O deprezo, O demônio das 11 horas, Viver a vida, Alphaville.

Truffaut: Os incompreendidos, Beijos roubados, Domicílio conjugal e Noite americana.

Shabrow: Os primos, a feia de chocolate, Comédia do poder e Garota dividida em dois.

Rohmer: O Signo do Leão, Amor à tarde, O Joelho de Clair.
Jacques Rivette: Paris nos pertence, A bela intrigante.


Prosseguindo, o professor comentou a era Pós Nouvelle Vague, com o surgimento dos chamados cinemas novos pelo mundo:

A Nouvelle Vague foi precussora de vários movimentos. Na Itália, surge Pier Paolo Pasolini, um multiartista provocador e homossexual. Alguns dos seus filmes marcantes foram Accatone, Mamma Roma e O Evangelho segundo São Mateus. Teorema de 1968, foi proibido no Brasil. É um filme forte do ponto de vista estético.

O professor também comenta a figura de Bernardo Bertolucci cinema Italiano:

Em 1964 Bertolucci traz à tona o filme “Antes da revolução”, onde ele lida com as questões da política, do erotismo e da busca do belo. O Bertolucci conseguia trazer uma mensagem bonita através das coisas triviais. O último tango em Paris foi um dos seus filmes marcantes.

                                   Bernardo Bertolucci

Ciccarini também fenção menção à figura de Werner Herzogg dentro do contexto do cinema alemão pós Nouvelle Vague:

Um dos temas recorrentes na visão de Herzogg é a loucura. Em o Homem urso, a relação do homem com a natureza é marcada pelo conflito. O cinema dele lida muito com isso…com a tentativa do homem de dominar a natureza. Na verdade, ele é um filme sobre a loucura humana. No filme Meu inimigo íntimo ele traz a questão da Kon Klux Kan. Um outro filme que marcou sua trajetória é O Enigma de Kasper Hausem.
Prosseguindo, o professor ainda citou alguns trabalhos do também Alemão Win Wenders: Paris-texas, No decurso do tempo, Asas do desejo (que segundo o professor seria a trama que deu origem ao filme Cidade dos anjos), Tão longe tão perto e O hotel de um milhão de dólares.
Rafael também citou alguns trabalhos de Rainer Fassbinder, outro cineasta alemão: O crescimento de Maria Brown, O desespero de Veronika Voss, Martha e Lola.


                                       Werner Herzogg

O professor também citou o cinema Polônes na figura de Andrzej Waja,o chamado cinesta do Holocausto, que produziu filmes como “Cinzas e Diamantes.”
Roman Polansky, o nome mais conhecido do cinema polônes, também foi citado. Como curiosidade Rafael disse que Ponlansky foi condenado por estrupo e extraditado dos USA. Além disso, sua mulher fora assassinada pelo grupo de Charles Manson.

                                      Roman Polansky

Alguns filmes que marcaram a carreira de Polansky foram O Bebê de Rosimery, O Inquilino, Repulsa. Seus filmes da era neo noar foram Chinatown, Lua de Fel, O Pianista, O último Porta e Oliver Twist.

Finalizando a aula na questão do cinema pelo mundo, Rafael citou a figura de John Cassavezes, que é considerado como sendo o pai do cienam independente norte americano.
Comenta Rafael:

Shadows, de 1959 é um filme muito improvisado. É um jazz movie que virou uma referência para os jovens mais lidos…A sua obra é uma influência do Scorsese, Copolla…a câmera presente no corpo. Corpo incômodo, como desejo, interdição.

Nossa aula foi finalizada com um estudo do excelente Afonso Chagas Corrêa, que iniciou sua fala com a leitura de uma mensagem do livro Vinha de Luz, de Emmanuel.


O teu dom

"Não desprezes o dom que há em ti".
Paulo (I TIMÓTEO, 4:14.)

Em todos os setores de reorganização da fé cristã, nos quadros do Espiritismo contemporâneo, há sempre companheiros dominados por nocivas inquietações.
O problema da mediunidade, principalmente, é dos mais ventilados, esquecendo-se, não raro, o impositivo essencial do serviço.
Aquisições psíquicas não constituem realizações mecânicas.
É indispensável aplicar nobremente as bênçãos já recebidas, a fim de que
possamos solicitar concessões novas.
Em toda parte, há insopitável ansiedade por recolher dons do Céu, sem nenhuma disposição sincera de espalhá-los, a benefício de todos, em nome do Divino Doador. Entretanto, o campo de lutas e experiências terrestres é a obra extensa do Cristo, dentro da qual a cada trabalhador se impõe certa particularidade de serviço.
Diariamente, haverá mais farta distribuição de luz espiritual em favor de quantos se utilizam da luz que já lhes foi concedida, no engrandecimento e na paz da comunidade.
Não é razoável, porém, conferir instrumentos novos a mãos ociosas, que entregam enxadas à ferrugem.
Recorda, pois, meu amigo, que podes ser o intermediário do Mestre, em qualquer parte.
Basta que compreendas a obrigação fundamental, no trabalho do bem, e atendas à Vontade do Senhor, agindo, incessantemente, na concretização dos Celestes Desígnios.
Não te aflijas, portanto, se ainda não recebeste a credencial para o intercâmbio direto com o plano invisível, sob o ponto de vista fenomênico. Se suspiras pela comunicação franca com os espíritos desencarnados, lembra-te de que também és um espírito imortal, temporariamente na Terra, com o dever de aplicar o sublime dom de servir que há em ti mesmo.

XAVIER, F. C.  Vinha de Luz. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB. Cópia integral do capítulo 127.

Obs: Em Breve colocaremos no ar o video do estudo feito pelo Afonso.

Terminamos por aqui, abraços a todos e até a próxima!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Aula - 30/01/2010

Por: Juliana Luiza
Fotos: Janaína Macieira
Vídeos: Thiago Franklin

O mês de Janeiro terminou sob um calor fortíssimo. O ânimo e o entusiasmo dos membros do nosso curso seguiu o seu compasso com determinação. Apesar do calor exarcerbado, do período de férias, o ânimo de nosso grupo seguiu à todo vapor.

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Na aula do dia 30, Thiago Franklin trouxe-nos uma sessão de Curtas produzidos na Escola Livre de Cinema de Belo Horizonte.
A aula iniciou-se com a leitura de uma mensagem.

ALCOÓLATRA
Joaquim Dias

Reunião da noite de 12 de janeiro de 1956.

Emocionadamente, o nosso grupo recebeu a visita de Joaquim Dias, pobre espírito sofredor que nos trouxe o doloroso relato ,de sua experiência, da qual recolhemos amplo material para estudo e meditação.
Alcoólatra!
Que outra palavra existirá na Terra, encerrando consigo tantas potencialidades para o crime?
O alcoólatra não é somente o destruidor de si mesmo. É o perigoso instrumento das trevas, ponte viva para as forças arrasadoras da lama abismal.
O incêndio que provoca desolação aparece numa chispa.
O alcoolismo que carreia a miséria nasce num copinho.
De chispa em chispa, transforma-se .0 incêndio em chamas devoradoras.
De copinho a copinho, o vício alcança a delinqüência.
Hoje, farrapo de alma que foi homem, reconheço que, ontem, a minha tragédia começou assim...
Um aperitivo inocente...
Uma hora de recreio. . .
Uma noite festiva...
Era eu um homem feliz e trabalhador, vivendo em companhia de meus pais, de minha esposa e um filhinho.
Uma ocasião, porém, surgiu em que tive a infelicidade de sorver alguns goles do veneno terrível; disfarçado em bebida elegante, tentando afugentar pequeninos problemas da vida e, desde então, converti-me em zona pestilencial para os abutres da crueldade.
Velhos inimigos desencarnados de nossa equipe familiar fizeram de mim seu intérprete.
A breve tempo, abandonei o trabalho, fugi à higiene e apodreci meu caráter, trocando o lar venturoso pela taverna infeliz. .
Bebendo por mim e por todas as entidades viciosas que nos hostilizavam a casa, falsifiquei documentos, matando meu pai com medicação indevida, depois de arrojá-lo à extrema ruína. .
Mais tarde, tornando-me bestial e inconsciente, espanquei minha mãe, impondo-lhe a enfermidade que a transportou para a sepultura. .
Depois de algum tempo, constrangi minha esposa ao meretrício, para extorquir-lhe dinheiro, assassinan- do-a numa noite de horror e fazendo crer que a infeliz se envenenara usando as próprias mãos e, de meu filho, fiz um jovem salteador e beberrão, muito cedo eliminado pela polícia. . .
Réprobo social, colhia tão-somente as aversões que eu plantava.
Muitas vezes, em relâmpagos de lucidez, admoestava-me a consciência:

- Ainda é tempo! Recomeça! Recomeça!


Entretanto, fizera-me um homem vencido e cercado pelas sombras daqueles que, quanto eu, se haviam consagrado no corpo físico à criminalidade e à viciação, e essas sombras rodeavam-me apressadas, gritando-me, irresistíveis:


- Bebe e esquece! Bebe, Joaquim!


E eu me embriagava, sequioso de olvidar a mim mesmo, até que o delírio agudo me sitiou num catre de amargura e indigência.

A febre, a enfermidade e a loucura consumiram-me a carne, mas não percebi a visitação da morte, porque fui atraído, de roldão, para a turba de delinqüentes a que antes me afeiçoara.
Sofri-lhes a pressão, assimilei-lhes os desvarios e, com eles, procurei novamente embebedar-me.
A taverna era o meu mundo, com a demência irresponsável por meu modo de ser...
Ai de mim, contudo! Chegou o instante em que não mais pude engodar minha sede!...
A insatisfação arrasava-me por dentro, sem que meus lábios conseguissem tocar, de leve, numa gota do liquido tentador.
Deplorando a inexplicável inibição que me agravava os padecimentos, afastei-me dos companheiros para ocultar a desdita de que me via objeto.
Caminhei sem destino, angustiado e semi-louco, até que me vi prostrado num leito espinhoso de terra seca. . .
Sede implacável dominava-me totalmente. . .
Clamei por socorro em vão, invejando os vermes do subsolo.
Palavra alguma conseguiria relatar a aflição com que implorei do Céu uma gota d’água que sustasse a alucinação de minhas células gustativas...
Meu suplicio ultrapassava toda humana expressão. ..
Não passava de uma fogueira circunscrita a mim mesmo.
Começaram, então, para mim, as miragens expiatórias.
Via-me em noite fresca e tranqüila, procurando o orvalho que caía do céu para dessedentar-me, enfim, mas, buscando as bagas do celeste elixir, elas não eram, aos meus olhos, senão lágrimas de minha mãe, cuja voz me atingia, pranteando em desconsolo:

- Não me batas, meu filho! Não me batas, meu filho! . . .


Devolvido à flagelação, via-me sob a chuva renovadora, mas, tentando sorver-lhe o jorro, nele reconhecia o pranto de meu pai, cujas palavras derradeiras me impunham desalento e vergonha:


- Filho meu, por que me arruinaste assim? Arrojava-me ao chão, mergulhando meu ser na corrente poluída que o temporal engrossava sempre, na esperança de aliviar a sede terrível, mas, na própria lama do enxurro, encontrava somente as lágrimas de minha esposa, de mistura com, recriminações dolorosas, fustigando-me a consciência:

- Por que me atiraste ao lodo? e por que me mataste, bandido?
- De novo regressava ao deserto que me acolhia, para logo após

me entregar à visão de fontes cristalinas...


- Enlouquecido de sede, colava a boca ao manancial, que se convertia em taça de fel candente, da qual transbordavam as lágrimas de meu filho, a bradar-me, em desespero:


- Meu pai, meu pai, que fizeste de mim?


Em toda parte, não surpreendia senão lágrimas... Arrastei-me pelos medonhos caminhos de minha peregrinação dolorosa, como um Espírito amaldiçoado que o vício metamorfoseara em peçonhento réptil...

Suspirava por água que me aliviasse o tormento, mas só encontrava pranto...
Pranto de meu pai, de minha mãe, de minha esposa e de meu filho a perseguir-me implacável...
Alma acicatada por remorsos intraduzíveis, amarguei provações espantosas, até que mãos fraternas me trouxeram à bênção da oração...
Piedosos enfermeiros da Vida Espiritual e mensageiros da Bondade Divina, pelos talentos da prece, aplacaram-me a sede, ofertando-me água pura...
Atenuou-se-me o estranho martírio, embora a consciência me acuse...
Ainda assim, amparado por aqueles que vos inspiram, ofereço-vos o triste exemplo de meu caso particular par escarmento daqueles que começam de copinho a copinho, no aperitivo inocente, na hora de recreio ou na noite festiva, descendo desprevenidos para o desequilíbrio e para a morte. . .
E, em vos falando, com o meu sofrimento transformado em palavras, rogo-vos a esmola dos pensamentos amigos para que eu regresse a mim mesmo, na escabrosa jornada da própria restauração.

Psicografia de Francisco Cândido Xavier.


A aula prosseguiu com a exibição de alguns curtas produzidos pela Escola.

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O primeiro filme exibido foi Os Peixes não falam (2005), que tem roteiro e direção de Gleiber Batista. No filme, uma desilusão amorosa leva um homem ao limite de sua existência, provocando um confronto com forças sobrenaturais.

Thiago comenta sobre o filme:

Esse filme foi rodado em película…em 16 mm. Com a câmera da escola, todo o aúdio teve que ser dublado, na pós produção pois a câmera da escola não é Blimpada.

O curta seguinte, já havia sido exibido anteriormente em nossa aula e valeu a pena ser visto novamente. Uma mulher desperta em ambiente estranho e, junto a um ciclista, vê-se aprisionada a uma perturbadora realidade. O filme tem roteiro e direção de Gabriel Martins Alves.
Thiago chamou a atenção para o recurso da animação utilizado na cena do atropelamento:

O recurso da animação é usado como alternativa em cenas que não são possíveis filmar… (principalmente quando não existe recursos). Existem várias maneiras de você fazer uma cena de atropelamento.


Abaixo a exibição dos filmes citados, os quais tem a produção executiva de Cláudio Costa Val.

Obs: Os dois filmes estão no mesmo video abaixo:


O próximo filme exibido foi Xeque-Mate (2005), de apenas 2 minutos de duração. O filme mostra dois homens, um ambiente sombrio, um jogo de xadrez e nada de som...
Um dos atores do filme e o próprio Claúdio Costa Val, professor de nossa turma. O roteiro e a direção são de Pedro Di Lorenzo.

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                                                                      Xeque Mate

A mulher que sabia demais (2005), em seu prosseguimento à exibição dos filmes. O filme, foi inspirado levemente no conto de Wood Allen. Uma investigação leva um detetive a questionar seus sentimentos ao descobrir uma mulher exuberante e uma atividade proibida por lei.

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                                                A Mulher que sabia demais

O próximo filme exibido foi um curta de animação chamado VÔO (2006). O filme traz a história de um menino da cidade grande, que tem sua visão de mundo transformada ao ver o vôo de um pássaro. Essa animação em cor tem a duração de apenas 1 minuto. As animações do referido filme foram produzidas por Felie Fraga Costa Val, Luiz Felipe Maciel Pedro Fraga Costa Val. A direção é de Daniel Franchini.

 voo Vôo

O próximo curta exibido foi Compasso de Espera. Baseado num suposta obra de nome Ensaios inacabados de uma mente doente (fictícia ou não?), o filme tenta trazer à tona o ambiente da confusão mental de um homem, que transforma o ambiente à sua volta em uma espécie de confusão surrealista. O roteiro é de Adrianan Fattini.



Prosseguindo a aula, foi exibido o curta Eu, meu olho e o que me olha (2007), com roteiro e direção de Juliana Paraguassu.
O filme traz um pequeno fragmento de uma tarde de 2010. O circuito interno de vigilância de um prédio revela, conflitos da vida de seus moradores.



O filme seguinte já comentado em nosso blog e exibido em nossa aula foi O Primeiro Passo, dirigido pro Cláudio Costa Val.
Em O Primeiro passo, a personagem sofre em delírios, dentro de um cenário que relembra episódios de sua vida. Uma suposta relação incestuosa entre ela e seu pai define todo a pertubação interior da personagem. Objetos e imagens que remetem ao passado da personagem, um telefone que toca incessantemente e a vozes que lhe chamam todo o tempo, oferecem um tom pertubador ao filme.



O último curta exibido em nossa aula “Se Steve Wonder fosse Deus”. O filme conta a história de um rapaz atormentado que conta ao terapeuta sua experiência com moça que conheçeu pela internet.


A aula foi finalizada com a exibição de um tocante filme de animação da DreamWorks chamado “Jósé, o Rei dos sonhos”, que relata de forma emocionante e quase poética, uma história biblica do velho testamento do personagem José.

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A dublagem de José, o personagem principal, tem a voz do ator Ben Affleck.
Thiago, através deste filme, intentou analisar a questão dos plot points, ou seja, dos pontos de virada do filme, a fim de que isso colaborasse para uma melhor estruturação dos roteiros que estão sendo produzidos por nossa forma.

Para tanto, Thiago desenhou um gráfico no quadro, demonstrando, desta forma, os atos principais do filme. No filme em questão, a divisão dos pontos de virada do filme, foi estruturada da seguinte maneira:

1) A venda de José como escravo pelos irmãos
2) Saída de José da cadeia
3) Reaparecimento de seus irmãos (quando ele já era um membro importante na corte  do Egito)
4) Reconcialiação com os irmãos (Quando os irmãos caem diante dos pés de José).

Comenta Thiago sobre o Gráfico:

Imagem 013(4)Esse gráfico serve para vocês terem uma idéia de como anda os conflitos no roteiro. Geralmente quando os conflitos se cruzam temos o Plot Point.

 

Terminamos por aqui, abraços a todos e até a próxima!

Obs: Os filmes utilizados na aula e no Blog são para ilustrar, mostrar tecnicas cinematograficas e gerar discussão no aspecto de produção. Eles não necessariamente refletem as ideias dos participantes, idealizadores do Curso e da Doutrina Espírita.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Roteiro – Aula 4

Nosso curso contou mais uma vez com a experiência do excelente Claúdio Costa Val.

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Nesta aula, em específico, alguns roteiros produzidos por membros de nosso grupo foram apresentados.
A aula foi iniciada com a leitura da mensagem “Coisas invísiveis”, do Livro Pão Nosso, ditado pelo espírito Emmanuel na psicografia de Francisco Cândido Xavier.

CAPÍTULO 55 - COISAS INVISÍVEIS

“Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade se estendem e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas.” 
Paulo - (ROMANOS, CAPÍTULO 1, VERSÍCULO 20.)


O espetáculo da Criação Universal é a mais forte de todas as manifestações contra o materialismo ne¬gativista, filho da ignorância ou da insensatez.   São as coisas criadas que falam mais justamen¬te da natureza invisível. Onde a atividade que se desdobre sem base? Toda forma inteligente nasceu de uma disposição inteligente. O homem conhece apenas as causas de suas realizações transitórias, ignorando, contudo, os mo¬tivos complexos de cada ângulo do caminho. A pai¬sagem exterior que lhe afeta o sensório é uma parte minúscula do acervo de criações divinas, que lhe sustentam o habitat, condicionado às suas possibi¬lidades de aproveitamento. O olho humano não verá, além do limite da sua capacidade de suportação. A criatura conviverá com os seres de que necessita no trabalho de elevação e receberá ambiente ade¬quado aos seus imperativos de aperfeiçoamento e progresso, mas que ninguém resuma a expressão vital da esfera em que respira no que os dedos mortais são suscetíveis de apalpar. Os objetos visíveis no campo de formas efêmeras constituem breve e transitória resultante das forças invisíveis no plano eterno. Cumpre os deveres que te cabem e receberás os direitos que te esperam. Faze corretamente o que te pede o dia de hoje e não precisarás repetir a experiência amanhã.

Livro Pão Nosso – Pelo Espírito de Emmanuel

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Costa Val deu início a sua exposição com a exibição de dois curtas, produzidos na Escola Livre de Cinema.
Os curtas, “O Primeiro passo”, dirigido pelo próprio Costa Val e “Quatro passos”, dirigido por Gabriel Martins Alves, mostraram personagens vivendo situações bem incômodas. Os filmes tem em comum, além do título, personagens que estão numa realidade surreal e desperadora; personagens que não encontram respostas para os seus dramas subjetivos e estão numa situação limítrofe. 
Imagem 011(2)Em “O Primeiro passo”, a personagem sofre em delírios, dentro de um cenário que relembra episódios de sua vida. Uma suposta relação incestuosa entre ela e seu pai define todo a pertubação interior da personagem. Objetos e imagens que remetem ao passado da personagem, um telefone que toca incessantemente e a vozes que lhe chamam todo o tempo, oferecem um tom pertubador ao filme.

Já no curta “Quatro passos”, a personagem, misteriosamente, acorda repetidas vezes dentro de um cenário confuso e se encontra sempre com um rapaz que lhe diz frases sem nexo.

Diz Costa Val:

O primeiro filme, tem uma estrutura redonda, misteriosa. A leitura vem de várias coisas e da vivência. São filmes bem fortes, que nos colocam numa situação incômoda, e ruídos torturantes, que nos remetem ao estado dos personagens. Ambos personagens encontram respostas. Ficamos aliviados quando eles encontram suas respostas. Vocês estão trabalhando a temática espírita. Esse filme “Quatro Passos” a estrutura é celular, a personagem acorda e sai pra rua, apénas na terceira vez é revelado o motivo. São pontos de virada que nos colocam no mesmo estado da personagem.   Novas informações nos promovem supresa e nos coloca na mesma posição do drama vivido. Esses curtas exibidos são filmes de suspense. Esta é a visão Aristotélica, é o que ocorre, por exemplo, em filmes como O sexto sentido, onde personagem e telespectador entendem a trama ao mesmo tempo. E é quando isso acontece para o personagem e o telespectador,  que temos o efeito dramático.

A aula prosseguiu com a análise de alguns roteiros de nossa turma. Costa Val analisou minuciosamente os roteiros escritos. Os roteiros em questão foram “Meimei” (de Juliana), “O pão” (de Aléxia), “O recomeço” (De Daniel), “Pequeno grande presente” (De Daniela), “Pequenas Lâmpadas humanas”, (De André) e o roteiro do nosso companheiro Fredinho que é o Pai mais “fresco” da turma e não esta podendo comparecer a as aulas por ter que dar suporte ao seu novo rebento! Que Jesus Abençõe (Estamos sentindo a sua falta!)
 
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Costa Val, criticando construtivamente nossos trabalhos, chamou a atenção para o fato de que, algumas histórias que grupo construiu estavam por demais didáticas . Diz o professor:

Temos que achar o meio termo para criar interesse no telespectador. Senão se torna algo enfadonho. O que nos guia é sempre o Pitch Line. Quando temos o Pitch line como guia temos todos o universo à nossa frente. (…)

O livro “Da criação ao roteiro” de Doc Comparatto, diz que um roteiro tem uma cara pronta pra filmar somente depois da décima reescrita. (…)

Todo personagem numa estrutura dramática se ferra. Mas ele sempre acha uma saída. Um personagem que se sacrifica por algo que ele acredita é bem melhor. (…)

Nosa colega Aléxia também comentou:

Não é o trato da escrita em si que é complicado, mas como a história vai aparecer na imagem…

Comentou querendo dizer que o mais dificil é imaginar a ação no sendo colocada no papel e nem tanto a carpintaria da escrita do roteiro.
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Costa Val prossegue:

Na nossa formação trabalhamos o logos e a palavra. Escrever para imagem e para som, necessita de um apuro técnico e criativo. Quando estamos escrevendo qualquer obra dentro de um objetivo, quremos que o telespectador admire a obra. (…)

Em relação à temática espírita, como ser menos explícito? Se eu me disponho a falar de determinado assunto é preciso conhecer deste assunto. (…) Tem que haver uma expectativa, uma apreensão. (…) Devemos analisar tecnicamente o conteúdo e perguntar smepre O QUE, ONDE, PORQUE E QUANDO. (…)

Costa Val também comentou a importância de se valorizar as cenas de transição e solicitou Imagem 013(2)que reescrevêssemos certas cenas dos roteiros, colocando alguns conflitos na ação. Alguns diálogos estavam didáticos ou literários por demais, por serem alguns, adaptações de livros. Por outro lado, alguns roteiros tinham muitos diálogos, se tornando por demais extensos. Por isso foram sugeridas algumas modificações.

Diz o professor:

Alguns roteiros ficaram por demais didáticos. Vocês tem que transformar isso em mais ações e diálogos mais curtos. Se faz preciso dividir os apontamentos em cenas bem delineadas. Eu acho que vocês precisam fazer uma reescrita desses roteiros. Na escrita do roteiro nos somos obrigados a dialogar com tudo. É importante perceber nos bons filmes o que tem informação clara e passar falsas pistas…

A aula foi finalizada com a exibição do making off do filme ”Bem próximo do mal”, de Sérgio Gomes, o Serginho, professor de técnica cinematográfica de nosso curso.

O que chamou a atenção do grupo, foi o fato de que o filme “Bem próximo do mal”, foi orçado em cerca de um milhão e meio de reais. No entanto, devido a falta de patrocínio e apoio, o filme foi produzido com R$7.000.

Serginho diz que:

“Pouco dinheiro exercita a criatividade. É um filme fiel ao roteiro, sem abrir mão da qualidade”.

ABRAÇOS A TODOS E ATÉ A PRÓXIMA!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Celtx e outros aprendizados


Por Juliana Luiza
Fotos: André Crispim

A aula deste domingo foi comandada pelo membro de nosso grupo, Thiago Franklin.


 

A aula foi iniciada com uma leitura belíssima da lição “Granjeai amigos”, do livro Pão Nosso, uma psicografia do espírito Emmanuel por Chico Xavier que inserimos a seguir:
"Também vos digo: granjeai amigos com as riquezas da injustiça." - Jesus. (Lucas, 16:9)


Se o homem conseguisse, desde a experiência humana, devassar o pretérito profundo, chegaria mais rapidamente à conclusão de que todas as possibilidades que o felicitam, em conhecimento e saúde, provêm da Bondade Divina e de que a maioria dos recursos materiais, à disposição de seus caprichos, procede da injustiça.

Não nos cabe particularizar e, sim, deduzir que as concepções do direito humano se originaram da influência divina, porque, quanto a nós outros, somos compelidos a reconhecer nossa vagarosa evolução individual do egoísmo feroz para o amor universalista, da iniqüidade para a justiça real.
Bastará recordar, nesse sentido, que quase todos os Estados terrestres se levantaram, há séculos, sobre conquistas cruéis. Com exceções, os homens têm sido servos dissipadores que, no momento do ajuste, não se mostram à altura da mordomia. Eis por que Jesus nos legou a parábola do empregado infiel, convidando-nos à fraternidade sincera para que, através dela, encontremos o caminho da reabilitação.

O Mestre aconselhou-nos a granjear amigos, isto é, a dilatar o círculo de simpatias em que nos sintamos cada vez mais intensivamente amparados pelo espírito de cooperação e pelos valores intercessórios.

Se o nosso passado espiritual é sombrio e doloroso, busquemos simplificá-lo, adquirindo dedicações verdadeiras, que nos auxiliem através da subida áspera da redenção. Se não temos hoje determinadas ligações com as riquezas da injustiça, tivemo-las, ontem, e faz-se imprescindível aproveitar o tempo para o nosso reajustamento individual perante a Justiça Divina.
Pelo Espírito de Emmanuel
Psicografado por Francisco Cândido Xavier
Livro - "Pão Nosso"

A aula se iniciou com a exibição de um filme Irariano “O silêncio”, (Sakout, 1998). Thiago trouxe o filme no intento de mostrar algumas abordagens do professor Rafel Ciccarini. Diz Thiago:

“O Rafael gosta de discutir esse tipo de filme. É um cinema no qual podemos apreciar os planos das cenas…”

Nossa turma assistiu com especial interesse o filme, que em sua simplicidade, traz algumas cenas tocantes e por vezes poéticas.
Dirigido por Mohsen Makhmalbaf, O silêncio aborda a realidade de um garoto cego, de nome Khorshid.O garoto é um afinador de instrumentos tradicionais numa oficina dirigida por um velho artesão. Korshid vive com sua mãe e tem uma vida bastante simples. A vida do menino é completamente regulada pelos ritmos e o som da música que influem em todas as ações.

A beleza da voz de uma vendedora de pães, por exemplo, encanta Khorshid. O menino diz uma frase tocante na referida cena: “Mãe, o pão dela é seco, mas ela tinha bonita voz”.
As músicas ouvidas nos seus caminhos o faz esquecer a sua própria realidade e as suas responsabilidades, como o emprego que ele tinha como afinador de instrumento.  Assim, para se desculpar de atraso ao serviço, o menino disse ao patrão: “Se eu me atrasei foi por causa da música…eu sempre tapava as minhas orelhas.





Numa determinada cena, passada num ônibus, o garoto tapa os ouvidos. Outras crianças que também estão no ônibus acham estranha essa atitude. O menino diz: “Seus olhos a destraem. Se você fechar os olhos aprenderá melhor”.

Khorshid é obcecado por quatro batidas que o acompanham diariamente, quatro batidas harmonizadas de maneira que o fazem lembrar das primeiras notas da quinta sinfonia de Beethoven.
Nos seus caminhos, Khorshid é seguido por uma simpática garotinha de nome Nadirah. Nadirah, que se veste de roupas coloridas e decora as unhas com pétalas de flores, está sempre ponta a oferecer os melhores conselhos ao seu amigo e ser sua guia pelos seus caminhos confusos.

Thiago chamou a atenção para que verificássemos a questão do enquadramento e dos planos mais longos e abertos no filme. Sendo interessante que servisse de base alguns aspectos do filme para a produção de curtas, já que “O silêncio” mostra um trato diferente com relação à imagem, constrói uma linguagem própria, explorando com vigor qualidades visuais e sonoras.

Após a exibição do filme os membros de nosso grupo fizeram alguns comentários. O consenso geral era de que muitos dos aspectos do filme, e até mesmo as expressões dos personagens, por vezes apática, tinham um jeito extremamente distinto do cinema usual, o qual estamos costumados a assistir.
Todos concordaram, entretanto, que o filme tem uma mensagem universal sobre a sensibilidade. A simplicidade do cinema iraniano, com cenas ternas, próximas da natureza e com diálogos curtos, será com certeza motivo para repensarmos vários aspectos da produção cinematográfica, no intuito de fazer um cinema que consiga alcançar diversos aspectos da alma humana.

Na segunda parte da aula, Thiago explicitou os pormenores do Programa CELTX, um “processador de texto” criado especialmente para roteiros. Portanto, o maior destaque deste programa é a ferramenta para elaboração de roteiros, com intuitivos atalhos para a sua formação, que é a padrão do cinema.

O endereço para dowload do programa é 
http://celtx.com/download.html

Thiago iniciou sua explanação sobre o CELTEX elucidando que, ao abrimos o programa, ele nos oferecem várias opções. No entanto, somente a parte central que nos interessaria, da questão da escrita do roteiro propriamente diata.

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Foi lucidado algumas questões importantes em relação ao CELTX e exemplificou a escrita do roteiro, usando roteiros produzidos por membros de nosso grupo. Abaixo resumimos algumas da suas explicações:
  • Sempre que vocês forem escrever, escrevam o título do filme (Clicando em página título)
  • Deve-se sempre colocar uma tralha # na frente da indicação da cena. O cabeçalho deve vir sempre em caixa alta, tal como no exemplo #1 HALL DE ENTRADA/ INT/DIA.
  • A ação é sempre o que está acontecendo na cena. O que está sendo filmado. Você faz o cabeçalho, dá enter e vai para a ação.
  • Toda vez que entrar o personagem você coloca o seu nome em caixa ala.
  • A vantagem desse programa é que ele tem corretor ortográfico.
  • os diálogos do CELTX são colocados sempre na parte central. Já a rubrica, vai entrar embaixo do personagem. Exemplo:                      
                                   LAURA
                                (chorando)        
  • Cena de crédito é também é feita pelo roteirista
  • Na formatação padrão, o CELTX não coloca o nome do personagem em negrito
  • Em relação ao tamanho do papel, colocar o papel que você irá imprimir. O ideal é utilizar o tamanhoa A4
  • Na verdade o roteiro é feito de cenas, personagens, partes do cenário, entre outras coisas. Você pode inserir antes do roteiro o perfil do personagem, entre outras informações que julgue relevante.
  • O montador e o diretor têm que ter uma afinidade muito boa. Se você tem um diretor que é aberto a outras ideias facilita muito o trabalho, na hora da edição.


A aula prosseguiu com Thiago exibindo um curta intitulado “No ponto”, produzido por ele na Escola Livre de cinema. Thiago mostrou algumas curiosidades na produção do curta.
Foi mostrado também as fotografias still no processo de criação de making off. Thiago elucidou que o referido curta foi filmado em dois dias e foi bem trabalhoso.











A aula foi finalizada com a exibição do filme “Perro Come Perro” (Cão come cão-2008), um filme Colombiano dirigido por Carlos Moreno.





O filme traz a história de um poderoso traficante de drogas de Cali, que começa a praticar maldades para vingar a morte de seu afilhado.
O filme causou um certo desconforto em alguns membros de nosso grupo, devido principamente a algumas cenas de violência exacerbada.



Entretanto, Thiago intentou mostrar com o filme os aspectos de uma montagem muito bem feita e a câmera sempre conduzindo para o interior dos personagens, de uma forma bem realista. A fotografia do filme retrata o calor e o suor de um ambiente violento e decadente. Além disso, o filme mostra uma certa questão espiritual, abordando a obsessão.
O desconforto produzido pela exibição do filme deu vazão a várias discussões produtivas, no sentido do grupo repensar o que é realmente produzir cinema ou que aspectos devemos ou não abordar no Cinema Espírita.
Helen, membro do nosso grupo, nos trouxe uma opinião bem interessante em nossa lista de discussão, que sintetiza bem essa questão da produção da arte e do cinema espírita. Reproduzimos abaixo a referida mensagem:

Eu sempre adorei filmes e assisti e assisto a todos os gêneros (exceto terror e massacre da serra elétrica). E nunca me senti afetar por eles.
Eu sempre tive para mim, que são ficção. Quando acabam, tudo se desfaz.
E eu já passo para o próximo filme, sem maiores preocupações.
De todos os filmes que assisto, eu sempre tiro alguma lição positiva.
Em alguns, ultimamente, eu sinto a necessidade de fazer preces depois.
Por aqueles que se encontravam ainda nesses contextos negativos, e por mim, para afastar-me desses contextos.
Por isso, tive uma grande surpresa, com os fatos que eu vou narrar abaixo.
Desde os 14 anos, leio as obras espíritas de André Luiz, pois, morávamos no interior e minha mãe teve a oportunidade de aproximar-se de um Sr. espírita e ele emprestou-lhe os livros da série. Ela gostou e passou para que lessemos.
Começamos de Nosso Lar, e fomos seguindo a sequencia.
Eu tive que pular dois livros: Ação e Reação e Libertação.
Eu começava a ler os livros e me sentia como o Henrique descreveu. Qdo eu insistia na leitura, chegava a ter náuseas, sentia cheiros e sentia um pavor interno enorme, sufocante. E ficava dias tendo pesadelos.
Anos mais tarde, já na faculdade, e morando em BH, tentei lê-los novamente, pois, me foram emprestados por uma amiga.
Novamente, tive essa reação violenta.
Em 2003, começei a frequentar regularmente o Grupo Emmanuel e estudar com mais profundidade e regularidade a doutrina espírita.
Como o grupo estuda muito as obras de Emmanuel e de André Luiz, lá estou eu novamente envolvida com a série. Relendo tudo.
Ao chegar nesses dois livros, empaquei de novo. Com os mesmos sintomas.
Somente agora, em 2008, quando estava sem nenhum livro novo em casa, resolvi pegar esses livros para tentar ler. Tenho a série completa na estante.
Comecei com o Ação e Reação.
Senti um desconforto inicial, com as cenas descritas pelo André Luiz, mas, consegui prosseguir na leitura e cheguei até o final do livro, simplesmente encantada e renovada com a leitura.
Arrisquei a pegar o Libertação, e hoje, considero um dos livros mais belos que eu já li na minha vida. Até digitei a prece da página 190, para fazê-la de vez em quando.
O interessante é que as descrições de André Luiz, ao longo desses livros, tanto das paisagens, quanto das sensações que ele tinha, e dos cheiros que ele sentia, eram, para mim, muito familiares, e eu tinha a sensação de conhecer muito bem aquilo tudo.
Tenho para mim, que eu devo ter sido resgatada dessas regiões, e deve ter sido coisa recente, pois, as memórias e o sofrimento ainda estavam muito vívidos na minha mente. Ao ler os livros, é como se eu revivesse aqueles contextos.
E a grande empatia que eu tive, com os espíritos em dificuldades, também foi, para mim,  um fato sugestivo disso. Eu entendia claramente os raciocínios e os sentimentos deles.
Senti uma enorme alegria, ao conseguir ler esses livros.
Pretendo lê-los de novo, pois, têm muito a me ensinar.
Para mim, foi um sinal de que alguma conquista eu devo ter conseguido amealhar durante o meu processo de vida.
Não está sendo uma reencarnação totalmente perdida... (rs rs rs).
Em qualquer contexto que estejamos, seja levados por circunstancias da vida, ou pela arte cinematográfica, penso que precisamos nos esforçar para trabalharmos a sintonia mental.
Pois, a sintonia mental é nossa, e não do contexto!!!!
Por isso Jesus aconselhou a olhar, vigiar e orar.
Ele sabia dessa nossa dificuldade em manter a sintonia elevada, em todas as circunstâncias, em função do nosso nível evolutivo.
É por isso, que são os espíritos de alta envergadura que fazem o resgate de espíritos nas regiões umbralinas.
E Maria Dolores conta que foi Maria, o espírito a descer às cavernas para resgatar Judas...
Durante toda a minha vida, minha oração favorita sempre foi o Salmo 23.
E eu sempre acreditei e me amparei na parte que dizia " e ainda que eu caminhe, pelo vale da sombra e da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo".
Eu sempre acreditei que Deus tem esse poder de nos "atravessar" pelas zonas de perigo, de sombras e de turbulência. Sejam quais forem. 
Minha proposta de reflexão é esta: "Como eu posso trabalhar a minha sintonia com os planos mais altos, independente do contexto?"
(Seja numa "fechada" no transito, ou assistindo a um filme ou noticiário de TV...


Finalizamos nosso relato de hoje cheios de esperanças e tranquilos na certeza de que podemos tirar boas lições de todo tipo de experiência.
Abraços a todos e até a próxima.