Por: Juliana Luiza
Fotos: Janaína Macieira
Vídeos: Henrique Lisboa
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O genial Rafael Ciccarini, mais uma vez nos deu a honra de sua presença em nosso curso, impressionando a todos com sua infinita gama de conhecimentos sobre a história cinematográfica.
Cidadão Kane - Orson Welles
A aula se iniciou elucidando o lendário “Cidadão kane” (Citizen kane, 1941), dirigido pelo também lendário e extraordinário Orson Welles. O professor iniciou a aula explicitando a dimensão do filme para a história do cinema:
A aula se iniciou elucidando o lendário “Cidadão kane” (Citizen kane, 1941), dirigido pelo também lendário e extraordinário Orson Welles. O professor iniciou a aula explicitando a dimensão do filme para a história do cinema:
É sempre um desafio. O Cidadão Kane continua sendo um dos filmes centrais da história do cinema. O meu interesse aqui não comprovar se este é o maior filme de todos os tempos. É preciso entender o por quê da impressão do filme. Quando falamos de cinema moderno, há várias coisas por trás; uma delas é Orson Welles. Se o neorealismo italiano foi fundamental para o cinema moderno, Orson welles no cinema americano, definiu a maneira de como o cinema olha para o real. Cidadão kane é de 1941. É o primeiro filme da vida de Orson Welles, que tinha então 25 anos somente. Orson tinha uma experiência anterior na arte, através do teatroe do rádio. Mas em matéria de cinema ele era completamente virgem. Assim, ele consegue entrar em Hollywood e fazer o filme que quisesse. Na hollywood de 30 e 40 era impensável essa liberdade. Nem Francis Cappra e Hughes tinham tanta liberdade. No Cidadão kane, a história do cinema é muito paradoxal. Ao mesmo tempo que que fez Orson Welles fazer um filme genial, também causou muitos problemas, condenando a vida dele pra sempre.
Neste ponto, o professor resumiu brevemente a trama do filme, que elucida a ascensão de um magnata malévolo da imprensa americana, Charles Foster Kane, que de garoto pobre no interior, se transforma num imperador dos meios de comunicação. O professor salienta que o filme foi inspirado na vida do milionário William Randolph Hearst, que é considerado um dos precursores da chamada “imprensa marrom”. A imprensa marrom é a forma como podem ser chamados os órgãos de imprensa considerados publicamente como sensacionalistas, que buscam alta audiência e vendagem através da divulgação exagerada de fatos e acontecimentos.
O jovem e belo Orson Welles.
O professor perguntou se alguém de nosso grupo havia assistido o filme. Surpreendentemente, alguns membros haviam assistido somente o fatídico e polêmico “Muito além do cidadão kane”, um documentário da BBC de Londres, que faz uma dura crítica ao sistema Globo de comunicações. Segundo o professor, o nome foi inspirado no cidadão Kane, pelo fato do referido documentário tratar do tema da influência da mídia televisiva, que em meados de 1990 tinha predominantemente o domínio da emissora de Roberto Marinho.
Comenta o professor sobre a genialidade de Orson Welles:
Orson Welles foi atrevido. Ele exige um contrato de liberdade criativa….e vai fazer um filme sobre o cara mais famoso dos Estados Unidos. É um filme crítico, de olhar ambíguo. O Charles Foster Kane é o mocinho (...), mas é também a figura má, de atitudes questionáveis. Esse olhar crítico e ao mesmo tempo ambíguo não é comum. O filme relaciona à grandiosidade à pequenez.
Cicarrini também comentou sobre um filme que Orson Welles fez no Brasil. Logo após "Citizen Kane", Welles passou uma temporada no país, onde pretendia filmar o carnaval carioca para um seguimento de um documentário chamado “It’s all true”. O professor comentou:
O Hurst tentou de todas as maneiras uma guerra contra Orson Welles, que ficaria indisposto com Hollywood inteira. No segundo filme dele por exemplo, o estúdio montou da forma que quiz o filme, e também queimou os negativos. Tem até a lenda que ele nadou no Rio Arrudas e m Belo Horizonte, e esta teria sido a melhor luz que ele já filmou. Tem também a história sobre uma suposta conversa dele com Juscelino Kubitscheck, onde tentava-se criar um polo cinematográfico no morro do chapéu.
Continuando, o professor prosseguiu, comentando mais sobre a trajetória de Welles e a lendária transmissão do programa de rádio que simulava uma invasão dos Estados Unidos por marcianos:
O Orson Welles, tinha desde os oito anos uma companhia de teatro em New York, chamada Mercury Theater. Ele fez uma montagem de Mcabeth, só com as pessoas do Harlem. No rádio, ele apresentava um programa nos anos 30. Há a famosa história, onde ele abriu o programa lendo um trecho do “Guerra dos mundos”. As pessoas começam a acreditar naquilo…o país começa a entrar em pânico. O Orson Welles ficou sabendo disso e intensificou a narrativa (…) Isso deu a maior confusão. Esse evento ficou famoso, ele teve que se explicar na polícia.
Neste instante, Ciccarini, comentou sobre o filme de Wood Allen A era do Rádio, onde acontece uma alusão ao pânico criado por Orson Welles nos anos 30, no que diz respeito a esta narrativa de “A guerra dos mundos”:
Ele sai com a menina. De repente começa a narrativa…o Wood Allen sai correndo. É um momento interessante que ele alude aos anos 30.
Ciccarini prosegue:
Nos anos 30, uma trajetória no teatro, literatura e poesia, era um caminho muito comum para o acesso a hollywood. Era previsível que ele fosse para Hollywood. O ano de 1939, como eu já comentei aqui anteriormente,foi um ano muito especial para hollywood, onde foram produzidos filmes como O Mágico de Oz, No tempo das diligências, E o vento levou, entre outros… Orson Welles queria ousar. Ele fecha com a RKO e começa a antipatizar a imprensa americana, pois ele nunca aparecia com o filme pronto…virou uma guerra, e uma ciumeira em hollywood. Orson Welles convida então o Mankiewicz para escrever o roteiro. Eles começam então a desenvolver o trabalho no filme. O estúdio então descobriu que o filme era baseado no Hurst quando o filme já estava pronto. Assim, os próprios estúdios ofereceram 900.000 dólares pelos negativos do filme. Nesse momento se deu a guerra então…Orson Welles consegue criar um clima pós lançamento para o Cidadão Kane, que já era um filme controverso. Orson Welles sempre negou que o filme fosse baseado no Hurst, que como personagem Charles Foster Kane, era casado e teve uma amante. O filme começa com a morte de Charles Foster Kane. A palavra Rosebud é a chave do roteiro do filme.
“Rosebud”, segundo o professor, foi uma alusão ao orgão genital feminino. Neste sentido, o autor Orson Welles reservou a palavra “Rosebud” para associar poeticamente àquilo que o personagem possuía de mais íntimo, de mais particular. Comenta o professor:
“Só um cara de 25 anos, que achava que rea dono do mundo e gênio, poderia criar algum como isso”.
Ciccarini comenta mais sobre o filme:
O Cidadão Kane é importante por uma série de motivos como questão técnica, o fato de potencializar a linguagem e a mudança na maneira de filmar. Além disso, o filme não é linear….Isso faz com que o cálice de objetivo do filme melhore muito. Como ele consegue articular esses componentes? E o lançamento do filme, como foi? A RKO lançou o filme com alguma timidez. Não foi com 30% de entusiasmo. O filme não é um fracasso de público, mas não é também um sucesso. Foi indicado ára 11 Oscars e somente ganhou 1, o de melhor roteiro original. John Ford comentou: “Não sei se esse é o Oscar que eu gostaria de ganhar”.
O professor explicou que John Ford fez esse comentário justamente por todo o momento conturbado que marcou a produção do filme.
Prosseguindo, Ciccarini deu início a exibição das primeiras cenas do lendário filme, elucidando que as letras garrafais que exibiam o nome de Welles, BY ORSON WELLES, diziam implicitamente todo o orgulho dele na criação do filme: “O filme é meu”, era o que estava implícito.
Comenta o professor: Já há uma ironia no início do filme com a frase “No trespassing” (Não entre) numa placa. Sobre o movimento de câmera e o jogo de luzes do início do filme, potencializado na famosa cena do castelo,o professor comenta:
O que ele faz é justamente o contrário do movimento de câmera que não fora pensado até então. Ele não necessariamente criou nada, mas potencializou tudo o que tinha. O Castelo de Charles Foster Keane vai ficando cada vez mais próximo. O filme é cheio de pequenas ilusões visuais. (…) Você está do lado de forma, aí a luz se apaga. Quando a luz acende novamente, você já está do lado de dentro do Castelo. O Orson Welles era um ilusionista. “Ele diz Rosebud e morre”. Os elementos são simbólicos. A neve é simbólica. A casinha, a câmera saindo de dentro são elementos simbólicos. Quando a câmera sai, ela em tese sai da metade objetiva. É um jogo de símbolos que a visualidade compõe. A neve está perpassando ali (…). Há também uma espécie de virtuosimo na chega que a enfermeira aparece. Estamos vendo a imagem fechada. Fica parecendo que é um erro, mas não é.
Ciccarini também comenta das cenas da exibição do telejornal neste início do filme:
A trilha é de Bernard Herman, um dos maiores compositores de trilhas do cinema, que é o mesmo compositor de Psicose. As cenas mostram Charles Foster Kane numa maquiagem impressionante, já que Orson Walles tinha apenas 25 anos, e ali ele aparenta ser um homem bem mais velho. Há um detalhe no filme: Para parecer mais velho, Orson Welles jogou o negativo no chão. Essa espécie de telejornal tem uma função narrativa de grande eloquência. Além de ser uma ironia, nós ficamos sabendo que o telejornal não está sendo exibido para o público, mas para alguns jornalistas. As primeiras informações são narrativas sobre o personagem. Dentro desta narrativa o roteiro é disparado em cima da procura por Rosebud. Há também a relação de ambiguidade no filme. O cara vai pesquisar quem foi Rosebud. O filme tem narradores diferentes, a verdade é subjetiva. Ninguém sabe quem é Charles Foster Kane. A verdade é relativa.
No vídeo abaixo, cenas do início do filme. Não encontramos as cenas com as narrativas originais em Inglês, somente as cenas ditas em Alemão. Entretanto, as imagens resumem um pouco do contexto citado:
O professor também comenta sobre o plano de transição mostrado no início do filme, que demonstra um projetor passando... No fundo, o cinejornal, que o telespectador descobre que nunca foi exibido para o público, mas sim para a imprensa, que o está assistindo. Diz o professor:
A cena vai se desenvolvendo com apenas duas fontes de luz forte. Welles queria uma cena parciamente cura e parcialmente clara. O filme tenta exarcebar a ambiguidade das coisas: Claro e escuro/ Luz e sombra. O filme coloca a imprensa sobre um questionamento visual. Essa é uma fotografia muito influenciada pelo expressionismo alemão. O personagem fica escuro de um lado e iluminado de outro, o que seria tecnicamente errado. É muito interessante o recorte no rosto dos personagem. A luz fica na frente dele. Aí instaura-se a dúvida pela imagemm, que fica cheia de fumaça, não fica plana.
Quanto ao movimento de câmera que aparece no letreiro da cena, o professor comenta:
O movimento de câmera nesta cena é interessante.O efeito letreiro passar por dentro na fusão. A câmera sai de baixo e vai repousar no persoangem. A câmera continua se movimentando. O Orson Welles trabalha bem com o espaço onde está filmando.
Em relação à profundidade de campo, o professor exemplificou com as imagens finais da sequência, onde se dá o diálogo entre Susan Foster Kane e hum homem. Diz o professor:
É a relação com o foco que dá profundidade ao campo. A silhueta em primeiro plano é homem e a do terceiro plano é Susan Foster Kane.
Ciccarini segue explicitando as cenas do filme, à partir da cena do “Diário do tutor”. Comenta o professor:
O filme vai assumir agora o ponto de vista do diário. O narrador passa a ser o diário. A câmera se movimenta e entra metaforicamente o diário. Passou lá pra dentro.
Em relação aos planos de sequência, o professor comenta:
O menino joga a bolinha de neve. Daí acontece o corte. A partir de agora começa um plano de sequência especial: O menino bricando, aparentemente é uma imagem normal. Mas a câmera começa a se movimentar para trás, nos revelando na verdade três pessoas na cena. A profundidade de campo faz com que o menino continue no quadro. O que está sendo discutido ali é o futuro do menino. A profundidade de campo, que mostra o menino numa imagem no meio, de fora da janela, brincando inocentemente, ajuda a complexidade". Essa profundidade de campo é uma das mais notáveis do filme. O menino falando ao longe, a voz dele entrando…(..) não há corte. Orson Welles cria um móvel com roda- a câmera levanta e passa por ali.Os outros diretores trabalham muito em corte. O Orson Welles nesta cena trabalha sem corte. O móvel com rodinha é algo que surge ali entre outras coisas. Ele consegue trazer a influência do teatro sem teatrilizar. Orson Welles mantém o espaço para o ator atuar, não precisa cortar. O ator tem continuidade.
Abaixo a referida sequência citada, que infelizmente, apenas conseguimos encontrar com a narrativa também dublada em alemão:
Já a sequência seguinte, mostra a cena, onde segundo professor, dáse uma passagem e vinte anos muito sutil, demonstrando assim uma elipse. A câmera baixa foca no menino olhando um adulto de cinema para baixo, demonstrando então o ponto de vista infantil daquela realidade. O guardião de Kane entusiasticamente lhe deseja “a Merry christmas e a imagem corta, com o tutor desejando “A happy new year” para Charles, já adulto. A sequência segue mostrando Orson Welles pela primeira vez no filme com o seu aspecto normal, de 25 anos. A cena mostra a redação de um jornal, com pessoas indignadas em relação a algumas manchetes. O professor comenta a questão de Orson Welles usar o teto rebaixado na cena:
Não se via teto em hollywood. O Orson Welles quiz mostrar o teto no filme, inclusive rebaixado. Isso era novidade, por que ele gostava de lidar com lente e tamanho das pessoas. Quando assistimos esse filme, redimensionamos a própria idéia de cinema. Olha como o cinema é uma mentira…você só presta atenção no diálogo e no cenárío está rolando toda uma perspectiva.
No vídeo abaixo, as referidas cenas:
O professor ainda faz mais comentários sobre Orson Welles:
“Os diretores de cinema passam a assistir o cidadão Kane, que se torna então referência. Continuando a carreira, Orson Welles faz “Soberba” (The Magnificent Ambersons, 1942). Dizem que havia um plano de sequência que foi um dos melhores de todos os tempos, mas que infelizmente se se perdeu. Dizem que ele chorou quando isso aconteceu. O filme tem um desfecho que não foi ele quem filmou, foi filmado por outro diretor.
No filme A marca da maldade (Touch of Evil, 1958), o estúido mexeu em tudo. Mas você sabe que foi algo modificado. O estúdio fez uma versão póstuma e uma versão do estúdio. Orson Welles também filmou Shakespeare: Otelo e MacBeth. Um dos seus últimos fimes foi “Air for fake”.O cinema americano é cheio de paradoxos. O Orson Welles morreu gordo e teve uma vida muito difícil.
Ainda sobre o Cidadão Kane, o professor comenta:
“O filme foi indicado a 11 oscars, mas desaparece nos anos 40. A RKO tira as cópias de circulação. A crítica americana constrói um outro discurso sobre a figura de Orson Welles. Então, desta forma, muitos diretores americanos apssam a ser valorizados pela crítica Francesa, como Alfred Hitchcock”.
Neste momento, o professor traz a lembrança do filme “Dirigindo no escuro (Hollywood Ending – 2002), onde Wood Allen interpreta um diretor cego. Neste filme, a crítica francesa o elogiou muito. Segundo o professor, em uma dada ocasião, Woddy Allen comentou: “Ainda bem que existem os franceses”.
Film Noir
A aula prosseguiu elucidando o estilo “Film Noir. Comenta o professor:
“O nome film noir foi dado aliás pela crítica francesa. Neste estilo, há a predominância do preto, da sombra, e da escuridão…algo bem semelhante ao kane. Geralmente tramas policiais, crimes, poluição são coisas inerentes a esse tipo de filme. Existe também a possibilidade da idéia da verdade. Ninguém confia em ninguém. A trama vai sempre te enganando. A verdade é sempre mutável e transitória. Mas ao mesmo tempo muito encantador. No filme Fame fatale, com Humprey Bogart, por exemplo, existe o aspecto da sedução, que é também ambíguo. Existe também uma mistura de glamour com crítica. O visual do noar clássico é portanto o constraste de claro e escuro (…). Esses filmes foram mais comuns nos anos 40 e 50. Mas mesmo o cinema colorido tem alguns exemplos, intitulados de Noar Moderno. Podemos dar o exemplo de China Town e Blade Runner. Esse estilo tem a influência do expressionismo alemão..e existe um vazio, você naõ sabe como é a verdade.
Os clássicos do cinema noar são Pacto de sangue, Laura, A beira do Abismo e A marca da Maldade, que são de meados das décadas de 40 e 50. Nos anos 90, o filme Los Angeles cidade proibida traz um pouco deste estilo. Sin city, de Robert Rodrigues e Femme Fatale, de Brian de Palma também mostram também. O Casablanca tem também algo do Noar. O Bogart é uma figura do Noar.
Neorealismo Italiano
O professor deu prosseguimento a aula abordando a questão do Neorealismo Italiano, qu segundo ele, é um momento central e definidor da história do cinema. Comenta o professor sobre esse aspecto:
O neorealismo italiano é o momento da história em que a história do cinema se bifurca. Rosselini vem modernizar. No período pós guerra, 1945, onde a Itália havia perdido a guerra, o que acontece nesse momento, é que até pelo facismo, os cineastas estão interessados em mostrar a realidade do país. O neorealismo traz então atores amadores e uma idéia fortemente neorealista. É um cinema que quer mostrar, mas não encenar a realidade. (…) .O estúdio principal Italiano da época, a Cinecittá, estava quebrada. É mais um cinema pensado á partir das condições.O paradigma até então era do cinema de estúdio, com bastante dinheiro e equipamentos. Chega então o cinema neorealista, que não tem tripé e não tem muita luz, como em vidas secas, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, onde a fotografia é arídissima. (…)O cinema realista lida com pessoas comuns e tem um enredo simples. Neste momento, o cinema, ao invés de buscar histórias complicas, comoeça a lidar com histórias que começam a ser simples. Tolstói diz que Se quiser ser universal canta a sua aldeia.
No Neorealismo há uma mudança de paradigma. Fala-se muito do presente,tudo é quase documental. É um cinema que vai direto na realidade. Esse movimento do Rosselini, esse ato de pegar a câmera e ir para a rua liberta o cinema: Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça (...).O neorealismo em um dado momento, começa a influenciar o cinema americano. Em Roma Cidade Aberta, Rosselini mostra a resistência contra os nazistas em roma. É quase um documentário sobre a Itália pós guerra. (…). Os filmes Noar são belos, mas tristes.
Neste ponto, o professor conta algo sobre o citado filme, o que definiu com uma semifofoca:
O Roma Cidade Aberta chega nos USA. A Ingrid Bergman fica apaixonada pelo roteiro do filme…e resolve então ir a Itália conhecer o Rosselini e se apaixona por ele”. O Rosselini fez a trilogia da guerra: Roma Cidade Aberta (1945), Paisà (1946), Alemanha, ano zero (1948).O neorealismo dura enquanto dura o contexto do Rosselini. Então, o neorealismo enquanto força vai até a década de 50. Talvez seja esse um dos momentos que mais influenciaram o cinema, que dura cerca de 10 anos. (...) O Glauber Rocha foi uma das figuras que trouxe o estilo Noar para o Brasil.
A belíssima Ingrid Bergman e Roberto Rosselini
A aula prosseguiu com a exibição de belíssimas e tocantes cenas do filme Ladrões de Bicicleta (1948), de Vittorio de Sica, que de acordo com Ciccarini é um dos clássicos do cinema neorealista. O professor comenta:
Esse é um filme importantíssimo na história do cinema. O Kane, O Encouraçado Potemkin e Ladrões de Bicleta, ficam brigando para ser o melhor filme…
O filme mostra pai e filho, que são atores amadores, abaixo cenas do filme:
A trama da história se inicia quando Antonio Ricci é seleccionado para um trabalho que consiste em colocar Posters pela cidade. O grande problema é que o trabalho exige uma bicicleta e ele tinha acabado de vender a sua para conseguir sustentar a família por mais algum tempo. Sem outra hipótese, Antonio e a sua mulher Maria regressam à loja de penhores para tentar recuperar a bicicleta, trocando-a por outros bens que ainda tinham. Tragicamente, logo no primeiro dia de trabalho, a bicicleta é roubada. Desesperado, Antonio começa a vasculhar toda a cidade com o seu filho Bruno,em busca da preciosa bicicleta. É essa busca através dos mais variados locais que centraliza toda a narrativa. do filme.
Comenta o professor, mostrando as cenas do vídeo:
Quem escreveu o roteiro foi Zavattinni, que se baseiou em várias histórias conhecidas.O neorealismo tem um aspecto documental. Parece que realmente a rua foi filmada. O plano aberto da rua interfere o mínimo possível na realidade. O De Sicca tinha métodos no limite do questionável…Por exemplo, ele acusou o menino do filme de ter roubado algo, só pra fazer ele chorar….Parece que ele fez uma terapia de choque.A fotografia do filme é mais escura. Dizem que um desses carros não estavam combinados. Eu já vi essa cena mais de 30000 vezes. Esse filme tem um simbolismo bonito. O menino desconstruindo a figura paterna. O filho devolvendo o chapéu pro pai (…) é uma atuação rica. O De Sicca filma muito. O que acontece no final? Nada! Eles morrem de fome!
A aula prosseguiu abordando Luchino Visconti, que segundo o professor, é um dos grandes artistas Neorealistas. Comenta o Rafael Ciccarini:
O Visconti fez o filme Obsessão, de 1942. Alguns o consideram como sendo o filme pioneiro do neorealismo. Esse filme tem uma trama comum, onde uma mulher planeja com o amante o assassinado do marido, e vem com uma centelha neorealista. Outros filmes neorealistas de Visconti são “A terra firme”, e “Belíssima”. Ultrapassando o Neorealismo, Visconti fez filmes como Rocco e seus irmãos, O Leopardo e Morte em Veneza.
O cinema pelo mundo
Ciccarini prosseguiu a aula, dando ênfase a alguns diretores que ajudaram a construir a história do cinema, nas décadas de 40 e 50. O professor comenta:
“ Não dá pra falar em movimento. Dentro dessa faixa temporal eu elegi alguns diretores.Ingmar Bergman, foi um dos diretores mais célebres da história do cinema. Ele se tornou um nome conhecido e respeitado e lidava com questões centrais e filosófica, como a morte, a culpa e a existência. (…) Todo artista precisa fazer arte e Bergman vai sem nenhum tipo de pudor tentar descer ao lugar mais fundo. Quase nunca foi uma experiência leve ou prazeirosa. Bergman é também diretor de tearato e começou a fazer filmes na década de 40. Berger se aprofunda na alma feminina”.
Neste instante, Janaína, integrante do nosso grupo, fez uma comparação com Chico Buarque, por que o mesmo é tido como um dos artistas brasileiros que mais entendem a alma feminina.
Ingmar Bergman e Chico Buarque de Hollanda…poetas da alma feminina?
Ciccarini citou algums filmes produzidos por Bergman, como Sonata de Outono, onde ele contrascenou com a belíssima Ingrid Bergman, que curiosamente não é sua parente, como o sobrenome e os
nomes que são parecidos poderiam sugerir. Outros filmes que foram produzidos por ele são Persona, Gritos e Sussuros (1956) e Os morangos Silvestres (1957).
O professor salienta que Bergman lida com o rosto de uma maneira singular e potente:
Bergman demonstra que o cinema é a arte que mostra a verdade do corpo humano como nenhuma outra. Bergman não é o cineasta para você ir com a turma assistir e comer pão de queijo. Para assistir os seus filmes se faz preciso uma certa sensibilidade e um certo sexto sentido.
A aula prosseguiu abordando a figura de Fellini. Comenta o professor:
“Fellinni é alguém que construiu um universo extremamente particular, com noções de fantasia, de verdade e mentira, que são noções muito difundidades. O ser humano em sua visão é também o sonho que ele ainda não foi. Neste sentido, a ficção é um documentário da alma. Uma das obras primas do Felini é o filme “Eu me recordo”, onde ele rememora sua infância. O filme traz um mergulho visceral na vida que ele teve ou que ele queria ter tido.No filme oito e meio, Fellini constrói uma espécie de alterego, uma espécie de autocrítica em relação ao cinema, talvez abordando a questão dele ser um dito mulherengo…O filme tem algo relacionado com paciência e tolerância. Vale à pena dar uma chance ao filme. É um dos filmes mais oníricos da história.
A aula prosseguiu abordando a figura de Luis Bunel, que segundo Ciccarini foi um grande gênio do cinema espanhol. O professor elucida:
Ele produziu o Cão Andalluz….e tem uma carreira longa e variada. Foi talvez o grande anarquista a história do cinema. Com uma capacidade crítica, ele lia com muito humor. Seus temas prediletos são a igreja e o moralismo. Ele ironiza ricos e pobres. No filme Veridiana , por exemplo, ironiza a Santa ceia. Nos anos 50 ele filmou Os Esquecidos, que mostra de certa forma como os valores se submetem à realidade.Em O Anjo exterminador (1962), ele mostra a Burguesia aristrocrata jantando. Na hora de ir embora as pessoas não conseguem deixar a sala. Surrealmente as pessoas não conseguem deixar a sala. O filme tem interpretações marxistas, na medida em que se concebe numa metáfora das próprias prisões que os homens criam. O homem se faz prisioneiro das próprias convenções.
O professor finalizou sua excelente explanação comentando de Billy Wider, que segundo ele é um dos grandes carpinteiros do roteiro e fez todos os gêneros. Comenta Ciccarini que os seus principais filmes foram:
1- Pacto de sangue, que tem o estilo Noar. 2- Farrapo Humano, com Willian Hurts, que linda com o tema do alcoolismo. 3-A montanha dos abutres, com Kirk Douglas. 4- Testemunha de acusação, que é um thiller. 5-Se meu apartamento falasse e 6-Quanto mais quente melhor, com Marilyn Monroe.
Estudo: Grupos Espíritas – 2ª Parte / Ricardo Mizrahy
Nossa aula, teve prosseguimento com o estudo de excelente Ricardo Mizrahy Polakiewicz, que dissertou mais uma vez sobre os aspectos do trabalho em grupo.
Abaixo, postamos a 2ª parte do o excelente estudo feito pelo Ricardo.
Abaixo segue a apresentação de slides usada por Ricardo.
ABRAÇOS A TODOS E ATÉ A PRÓXIMA!