terça-feira, 24 de novembro de 2009

Aula de Roteiro – Aula 2

Por Juliana Luiza
Vídeos: Thiago Franklin e Henrique Lisboa
Fotos: Janaína Maceira e Henrique Lisboa 


Caminhando contra o vento, num sol escaldante de quase Dezembro, nosso curso seguiu seu rumo neste Domingo, dia 22. O calor sufocante, entretanto, não foi suficiente para derreter o entusiasmo que envolveu todos os membros de nosso grupo para a segunda aula de Roteiro, com o excelente Claúdio Costa Val.

Tendo uma vasta experiência no campo musical e teatral, Claúdio tem trabalhado assiduamente como diretor, roteirista, produtor e professor, além de ator. Fundador da Parpaedo Cinevídeo, produtora que realiza curtas-metragens, vídeo clipes e produções diversas, Claúdio criou em 2003 a renomada Escola Livre de Cinema, tornando-se então diretor e professor de "Roteiro para cinema","Direção cinematográfica" e "Produção Experimental" desta instituição.
Ele, portanto, nos trouxe um pouco desta sua vasta experiência, demonstrando de maneira clara, inteligente e quase poética, todos os pormenores do processo de produção do roteiro.

Costa Val iniciou a segunda aula de roteiro, fazendo uma espécie de recaptulação da aula anterior.
Na primeira aula, que aconteceu dia 18 de Outubro, ele havia abordado a questão do próprio conceito de roteirizar um filme e comentou naquele momento alguns tópicos importantes.
Dizia ele que

"O teatro é arte do ator. O cinema e a tv são a arte do diretor.O roteiro não é o filme, é o que vai dar origem ao filme. O roteiro é uma crisálida, depois transforma-se em borboleta".

A partir daí, foi abordada a questão dos gêneros Lírico, Épico e Dramático na história das artes cênicas. Costa Val, na referida aula, elucidou de maneira tocante aquilo que seria a maior dramaturgia da história, que ficaria à cargo dos Gregos (Ésquilo, Sófocles e Eurípedes), além de Shakespeare e Moliére.
A primeira aula foi finalizada na abordagem da questão do conflito e do personagem. Segundo Costa Val, o clímax de um determinado filme acontecerá na confrontação de forças e nos obstáculos enfrentados pelos personagens, nos seus dramas pessoais e nas dificuldades que surgem em sua trajetória.

Na perspectiva do conflito e do personagem, foi dada a sequência à aula anterior. Segundo Costa Val, a relação entre conflito e personagem se traduz no próprio conceito de roteiro, já que o conflito é a chave de um roteiro e o elemento emocional.
Primeiramente, foi abordada a questão da "Idéia". Diz o professor que

"Para que tenhamos motivação para escrever um roteiro, tudo reside no quesito idéia. O roteiro é a defesa de uma idéia. A obra está a serviço de uma mensagem."

O professor ainda elucidou que toda a história se estrutura em começo, meio e fim, e que um roteiro precisa também se estruturado em algumas etapas. Neste ponto, ele citou Nietzche:

"Nunca aceite uma idéia que não tenha nenhum esforço para concebê-la.”

Um outro aspecto abordado, foram os elementos da retórica Aristotélica, que são conceituados como Logos, Pathos e Ethos.
Um bom roteiro, deve conter o Logos (A palavra, o discurso), o Pathos (O drama, o conflito do dia a dia, que vai gerando os acontecimentos) e o Ethos ( A ética, a moral). O professor também salientou que na elaboração de um roteiro, através do Pathos encontramos o nosso Ethos.
Desta maneira, através do protagonista, que o elemento central de uma trama, o roteirista terá que construir o drama (Pathos) de seu personagem dentro de uma razão, de uma perspectiva pela qual se escreve (Ethos).
O roteiro é personagem em movimento. A estrutura dramática, na visão de Costa Val se concebe através das chamadas peripécias aristotélicas. Ele comenta:

"Não existe meio termo. Ou o personagem se dá bem, ou o personagem se dá mal. Ninguém se safrifica em vão, ainda que o personagem tenha se ferrado".

O professor, na proposta de explicitar melhor a questão do conflito versus personagem, inseriu a idéia do gênero dramático dentro do conceito cinematográfico:"Quem conta a história já sabe o que aconteceu".
Para exemplificar este fato, ele deu o exemplo do filme Menina de Outro, de Clint Eastwood, tendo no elenco Hillary Swank e Morgan Freeman. Diz Costa Val: "No filme, o Morgan freeman sabe tudo o que já se passou".




Neste sentido, o autor estrutura sua trama, criando falsas pistas que vão tecendo o destino dos personagens: "A falsa pista direciona o telespectador par um lugar e na verdade é uma outra coisa".
Outro filme citado, foi o "Show de Truman", filme estrelado por Jim Carrey, com a direção de Peter Weir.
Segundo Costa Val, em "O show de Truman", o "Ethos", a idéia que queremos transmitir se concebe na crítica principal do filme, que aborda a questão do domínio da mídia e sua manipulação sobre nossas vidas.
Diz Costa Val:


"Escrever é correr riscos. O risco ocorre em todos os processos. Na obra Narrativa, é bom que saibamos de quem estamos falando para perceber a possibilidade de acertos. Podemos atingir ou não atingir outras pessoas. Se você não sabe de quem ou do que você fala, é impossível seguir no processo do roteiro".

“Em A menina de Ouro, o roteiro é todo construído numa história de superação, mas somente no final entendemos que a verdadeira crítica do filme se refere ao processo da eutanásia. Ela sofre um golpe sujo. Mas Clint Eastwood deixa que a gente conclua. Pensamos que é mais um estado de superação, mas não é somente isso."

Foi ainda comentada a versatilidade de Clint Estwood em filmes como Gran Torino.

"O Clint Estwood é um diretor econômico. Suas histórias são lineares e seguras...Não tem rebuscado. Ele vai direto ao ponto. Os roteiros que ele opta por dirigir são muito intensos e impactantes".


Neste ponto, elucidando a questão dos dramas comentados, o professor citou Lumet:

"Fazer filme sempre gira em torno de contar uma história. Alguns filmes contam uma história e nos deixam com uma impressão. Alguns contam uma história nos deixam com uma impressão e nos dão uma idéia. Outros contam uma história, nos deixam com uma impressão, nos dão uma idéia e revelam alguma coisa sobre nós mesmos e os outros.”

Ainda ao que diz respeito à questão do personagem, a visão de Aristóteles, que concebe personagem e expectador percebendo o drama no mesmo momento, foi também explicitada. Diante dos obstáculos,existe o processo do conhecimento e reconhecimento. Desta forma, o climáx da estória e dá quando o telespectador descobre com o personagem certos relances da trama de um filme.
Um exemplo, neste aspecto, foi dado com o filme "O Sexto Sentido" de Shyamalan, com Bruce Willis,onde o autor oferece pistas, que criam uma certa confusão nas idéias do personagem, mas que, como um quebra-cabeça, vão se encaixando conforme a trama avança para o final.


O professor ainda elucidou que mesmo que uma determinada estória comece com o nascimento de um personagem existe sempre ume estado anterior. Há um elipse. Entre esses dois intervalos de tempo aconteceram coisas, e essas coisas vão sendo intercalados no decorrer da história.  

"A vida do personagem vai sendo lançada em flashbacks ou em outra forma"

Foi também ofertado o exemplo de filmes que mostram presidiários, que geralmente são iniciados do momento em que os personagens "saem da prisão".
Costa Val ainda comentou sobre o fato de que a conjugação de fatores físicos, sociais e psicológicos, dentro da noção de conflito dos personagens constitui a base da formação da idéia constituinte do roteiro. Diz Costa Val:


"O personagem está em constante mudança. Alguma coisa muda para que tenha o status de protagonista".


Foi citado o exemplo do filme "Clube da Luta". Neste filme, todas as lutas que aparecem no filme têm sentido metafórico.Não estão ali pra comporem somente cenas extremamente violentas, mas ao contrário demonstram dramas psicológicos do ser humano.
Na questão da constituição do roteiro, Costa Val  elucidou que se faz importante conhecer a ligação de todos os personagens da trama, para que se possa então desenvolver a idéia.
Diz ele que se faz importante, nesta perspectiva, conhecer a relação Protagonista versus antagonista, bem como a relação dessas figuras com os coadjuvantes e componentes dramáticos, que seriam aqueles pequenos personagens que tem um papel fundamental na ação do filme.
No quadro, ele desenhou uma estrutura semelhante ao que se segue:


Protagonistas X Coadjuvantes



O professor comentou sobre as diversas facetas que moldam a estrutura dos personagens. Na questão dos Antagonistas e Protagonistas existe, portanto, todo um processo de subjetividade.
Na criação do personagem, segundo Costa Val, existem os paradigmas amoral (onde não existe certo ou errado) e Imoral.
Neste sentindo ele citou o filme "A dupla face da Lei", de Michael Mann, com os excelentes Al Pacino, Robert De Niro e Val Kilmer.
O personagem de De Niro, à princípio, é focado como o vilão, o antagonista da história. No entanto, a versatilidade da criação do roteiro é tão bem arquitetada, e a interpretação de De Niro se faz de maneira tão genial, que o telespectador começa a sentir uma certa simpatia pelo personagem. Diz Costa Val:

"Torcemos para o bandido dar certo. Não conseguimos ficar do lado personagem de Al Pacino, que se concebe na personificação da justiça, que seria supostamente o "lado bom" da trama. Esse é um filme muito rico sob o ponto de vista da construção do personagem.”



Para continuar exemplificando a questão da construção do personagem, foi ainda comentado outro filme de Michael Mann: Miami Vice. Neste filme, os personagens dos atores Jammie Fox e Collen Farrell, disfarçados, fazem o transporte de grandes carregamentos de drogas no sul da Flórida na tentativa de identificarem o grupo responsável pelas mortes de seus amigos, e com a missão de investigarem a nova ordem do submundo. E os limites irão se confundir quando os parceiros começarem a esquecer qual o caminho de volta e de que lado da lei eles têm que ficar. O personagem de Farrell opta por tudo o que ele acredita. Costa Val comenta sobre a fala do personagem de Farrell: "E agora, será que realmente o que eu faço tem que ser feito mesmo"?

Dentro deste paradigma, ele também comentou sobre o filme "Um dia de fúria", com Michael Douglas. O professor comentou que tudo na estória vai sendo lançado para a construção do drama psicológico do personagem. O filme discute como a sociedade vai nos sufocando. Michael Douglas cria um personagem de si mesmo.

"Fazer um filme é fazer funcionar várias engranagens. O diálogo do roteirista com o diretor na produção de um filme deve ser algo constante", diz Costa Val.

Em relação à estrutura do roteiro, o professor explicitou os promenores dos elementos essenciais da formatação como o cabeçalho, a rubrica e o diálogo.
A questão da rubrica suscitou algumas dúvidas na turma. Diz Costa Val que  quando estamos escrevendo um roteiro, as características físicas dos personagens, que vêm inseridas na rubrica, não necessitam de vir muito claras, com muitos detalhes. Certos pormenores da filmagem não precisam vir incluídos no roteiro. Uma ação de "pegar uma imagem em close", por exemplo, não precisa necessariamente vir escrita no roteiro.
Neste sentido, ele deu o exemplo da obra Brás Cubas, de Machado de Assis, onde o personagem não é definido claramente. Costa Val comenta: " No roteiro, eu posso ter a opção de não definir o personagem. Escrevemos fisicamente na rubrica, mas psicologicamente nunca escrevemos. É desnecessária uma descrição "parnasiana", detalhada.
Voltando à questão da idéia, o professor comenta:

"O filme mais caro e o filme mais barato da humanidade nasceram de uma idéia". 



Á partir da perspectiva da idéia, Costa Val esmiuçou  as etapas de criação do roteiro. Para tanto, ele desenhou uma espécie de pirâmide. A noção de idéia, que pode se manifestar de infinitas maneiras, fundamenta os pilares desse pirâmide:

                                                
Costa Val conceitua o Pitch Line como sendo a capacidade do roteirista de contar a história em uma frase. Ele, desta forma, citou o seguinte exemplo: "Um homem precisa atravessar o país de Norte à Sul para encontrar seu amor".
Já o Story Line é o resumo da estória, que pode ser estruturado, na visão de Costa Val, em seis linhas, como ele demonstrou na sequência abaixo:

==Começo=2linhas=========Meio=2linhas======Fim==2 linhas====

A sinopse, segundo Costa Val, é um "breve relato". Sendo assim, se traduz em uma síntese narrativa do que acontece na estória. Esta síntese, segundo professor, pode ser feita em 1/2 página. O objetivo da sinopse, segundo o professor, é portanto o de criar a unidade dramática do roteiro.
Costa Val salienta que aspectos como a localização, a temporalidade, o perfil do personagem e o decurso da ação dramática são elementos presentes na sinopse. Ele ainda elucida que o que mais chama a atenção na estrutura da sinopse é a capacidade de persuasão para atrair o telespectador.
Na estrutura do roteiro, bem como na sinopse, o verbo é estruturado sempre no presente. A ação é presente. Acontece aqui, agora.
A elaboração do argumento de um roteiro foi também analisada.Criar o argumento é incrementar, detalhar um pouco mais, explicar de forma mais completa quela idéia que era apenas um conceieto criativo na sinopse. O professor explica que no argumento "é como se você escrevesse seu roteiro em forma de conto".
Neste sentido, a unidade dramática do argumento se faz na divisão de cenas, juntamente com as ações e os diálogos desenvolvidos. Nas mudanças do personagem e no potencial dramático, a ação da trama vai se desenvolvendo.

Temos então, segundo o professor, a estrutura clássica dos roteiros:

===Primeiro ato===Segundo ato(ponto de virada)====Terceiro ato====
O primeiro ato se traduz na exposição do problema. O Segundo ato é ponto da virada, ou seja, a complicação do problema. E o terceiro ato é o clímax atingido.
Para exemplificar esta tríade, Costa Val cita a sequência ação, tempo e lugar, de Aristóteles. A ação cinematográfica, metaforicamente, se daria então no espaço imaginário de um dia.
A aula seguiu com a exemplificação de alguns "Pitch Lines" produzidos por membros de nosso grupo como tarefa da primeira aula.

Foi elucidada também a questão da adaptação cinematográfica. Segundo Costa Val, existem cinco graus de adaptação
1- Fidelidade absoluta à obra: Os diálogos criados traduzem a essência da obra
2- Livre adaptação: São feitas algumas alterações na obra original.
Neste ponto, Costa Val citou o excelente Romeo e Julieta de Barz Luhrman, com Leonardo DiCaprio e Claire Daines, onde o cenário da tragédia de Shakespeare é transferido para uma surreal "Verona Beach".


3- Inspirado em: Não precisamos ser tão fiéis à obra ou à vida da pessoa,
4- Baseado em: O personagem continua com a sua moral, as principais características da obra são preservadas. No entanto o clímax da trama pode ser mudado.
5- Recriação: A obra é recriada completamente com uma outra visão, ou outra proposta. Um exemplo dado pelo professor, foi o do filme Crepúsculo que pateticamente recriou as características do Conde Drácula, personagem tradicional do cinema clássico.

Claúdio Costa Val concluiu sua excelente exposição exibindo o curta metragem “À Espera”.
O filme, de gênero dramático foi assumidamente inspirado em filmes de Faroeste, ou pelo menos, numa das situações de duelo. Com o curta, podemos visualizar a questão do "Ethos" no cinema. No caso do filme em questão, a moral da estória é o fato de "Os homens sempre morrem".




Nossa aula foi finalizada por um excelente estudo, incrementada com um aúdio do livro "Sexo e Destino", de André Luiz. Thiago Franklin trouxe para o nosso grupo um trecho do audiobook do referido livro, que foi produzido pela LBV.
Pudemos, desta maneira, fazer uma comparação da estrutura do diálogo procedente da obra literária, com a estrutura do diálogo procedente do áudio. A estrutura da trama, foi mostrada de maneira bem complexa, através de uma escaleta dos personagens desenhada no quadro.
A concepção dos diálogos e da trama do áudiobook demonstrava uma proposta de informar e fazer uma reflexão sobre os diversos dramas da alma humana.
O sentimento que se notou na maioria dos participantes do curso, foi que aquele tipo de condução narrativa de roteiro, poderia se conceber numa inspiração para as futuras produções do grupo. No seguinte link, se faz possível ouvir inteiramente o aúdio de "Sexo e destino":





Caso goste da “Rádio novela” Sexo e Destino, ela pode ser encontrada nas livrarias espíritas. 




Abaixo, o cameracast do hilário Henrique, um dos mais versáteis e divertidos membros do nosso grupo:



Finalizamos neste instante essa humilde narrativa com uma breve mensagem de Emmanuel:
O Espiritismo é um Templo
Meus amigos, que as Forças Infinitas do Bem vos concedam paz espiritual nas estradas purificadoras do mundo.

Antes de encerrardes a vossa prece, ergo meu pensamento ao Divino Mestre, rogando a Ele vos esclareça a mente e fortifique o coração.

O Espiritismo é atualmente um templo aberto à fé, uma oficina que se oferece ao trabalho salvador e uma escola que se institui à abençoada preparação das almas.

Sob qualquer prisma, faz-se necessário o esforço próprio em vossa matrícula espiritual.

Como crentes, devereis cultivar a fé viva; como operário, necessitais de testemunho e movimentação; como aprendizes, não podeis dispensar a observação, o estudo e as provas necessárias.

Escolhei, portanto, aí dentro o vosso caminho. No limiar do templo, da oficina, da escola, encontrareis Jesus Cristo.

Aceiteis a Sua custódia Divina e entregai-vos a Ele no Serviço Superior da vossa renovação.

Não temos diante de nós uma batalha dogmatica e, sim, unificação no Senhor.

Que o Espírito Divino vos inspirem, pois, em vosso estudo, que é
indispensável, amparando-vos a cada um nos problemas que vos são peculiares, são os votos do vosso irmão ao dispor.

Autor: Emmanuel

Psicografia de Chico Xavier. Do livro: Mentores e Seareiros